Por Maximilian Heath
COMODORO PY, Argentina (Reuters) - A seca é apenas a primeira das preocupações de produtores como Juan Francisco Arregui nas fazendas agrícolas argentinas, das quais o mundo passou a depender mais do que o normal para suprir a atual escassez de grãos necessários para fazer pão e farinha.
"Esta temporada para o trigo é complicada", disse Arregui à Reuters, em pé em um campo empoeirado que, segundo ele, não recebia chuva há dois meses. Ele disse que a safra precisa que a chuva chegue logo, mas as previsões meteorológicas não são promissoras.
Além do tempo seco prolongado, os altos custos dos fertilizantes e a incerteza política sobre as regras de exportação estão levando ele e outros agricultores a dedicarem mais terras à soja e reduzirem as terras dedicadas ao trigo na Argentina, o sexto exportador mundial do grão.
Embora houvesse umidade suficiente para plantar as sementes, "não resta muito", disse ele. "Isso significa que a safra de trigo não é segura de forma alguma. Podemos começá-la, mas estamos esperando pela chuva."
A Argentina teve uma safra recorde de trigo 2021/22 de 22,4 milhões de toneladas, de forma que os mercados globais de grãos esperavam que o país pudesse ajudar a preencher o déficit de grãos perdidos após a invasão da Ucrânia pela Rússia. O conflito entre os dois maiores exportadores de trigo fez os preços dispararem.
Mas agora, as duas principais bolsas de grãos da Argentina, Buenos Aires e Rosário, reduziram as previsões de plantio de trigo e alertaram para mais cortes se o clima não melhorar.
"Hoje qualquer coisa que dê errado com o trigo é mais importante e significa maiores perdas. É o que estamos vendo", disse Cristian Russo, engenheiro agrônomo-chefe da bolsa de grãos de Rosário, que estima uma colheita de 18,5 milhões de toneladas no melhor cenário.
A bolsa alertou sobre as piores condições de plantio de trigo em 12 anos e disse que a semeadura dos grãos ficou paralisada em 65% pela seca, arriscando lotes vazios.
A previsão do tempo não é promissora.
"No curto prazo, a tendência de chuva ainda é muito escassa", disse o meteorologista de Buenos Aires Leonardo De Benedictis, acrescentando que podem ser algumas chuvas limitadas e isoladas.
FERTILIZANTES E POLÍTICA
Além de provocar preocupações com a segurança alimentar e sustentar a inflação global, a luta Rússia-Ucrânia também elevou os preços dos fertilizantes. A Rússia é um grande fornecedor global, e a perda de fertilizante russo atingiu agricultores de todo o mundo, dos Estados Unidos à América do Sul.
Arregui disse que nesta temporada pagou 1.600 dólares por tonelada de fertilizante fosfatado, mais que o dobro dos 700 dólares pagos um ano atrás. Seu custo de ureia dobrou para 1.100 dólares por tonelada. Isso fez com que ele mudasse o plantio do trigo para a soja, que precisava de um investimento menor.
As preocupações com a intervenção do governo também são grandes. As autoridades argentinas estão tentando conter a inflação doméstica em 60%. O governo manteve um limite mais baixo para as exportações de trigo do que no ano passado, aumentou as tarifas de exportação de farelo de soja e óleo e ameaçou impostos mais altos para o trigo, embora não haja apoio suficiente no Congresso para essa medida.
As exportações de trigo para o ciclo 2022/23 estão atualmente limitadas a 10 milhões de toneladas, de 14,5 milhões de toneladas na campanha anterior, embora esse limite possa ser aumentado posteriormente.
"Aqui você vai para a cama no domingo e na segunda você não sabe que notícias vai encontrar", disse o agricultor Arregui, referindo-se à mudança de política do governo.
"Todos os dias eles estão tomando decisões que afetam indiretamente o que você faz e é uma incerteza terrível, você não pode planejar nada. Realmente custa muito todos os dias."