SÃO PAULO (Reuters) - As concessões de empréstimos no Brasil tiveram queda de 9,5% em fevereiro na comparação com o mês anterior, informou o Banco Central nesta quarta-feira, com o estoque total de crédito dando sequência a uma tendência de desaceleração e recuando 0,1% no período, a 5,319 trilhões de reais.
No mês, as concessões de financiamentos com recursos livres, nos quais as condições dos empréstimos são livremente negociadas entre bancos e tomadores, tiveram queda de 9,6% em relação ao mês anterior. Para as operações com recursos direcionados, que atendem a parâmetros estabelecidos pelo governo, houve recuo de 8,6% no período.
Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, um processo de desaceleração do crédito está em curso desde meados do ano passado, quando a maioria das modalidades do setor atingiu seu pico.
"No segundo semestre do ano passado também foi o momento em que houve uma desaceleração da própria atividade econômica como um todo no país, então acho que (esse é) um fator por trás do comportamento de crédito", avaliou Rocha em entrevista coletiva, acrescentando que o ciclo de aperto monetário também contribui para a desaceleração do crédito.
A taxa Selic está atualmente em 13,75%, depois que o BC promoveu um longo e intenso processo de aperto que tirou os juros do menor patamar histórico de 2%. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado as condições monetárias e já disse que a Selic alta pode desencadear uma crise de crédito.
Rocha disse que a crise da varejista Americanas --que despertou preocupações sobre contágio do setor de crédito doméstico mais amplo-- teve "impacto muito pontual", ficando mais limitada aos setores de crédito de desconto e ofuscada pelo cenário macroeconômico de desaceleração da atividade.
Questionado sobre o impacto dos temores globais sobre o crédito na esteira da crise de bancos no exterior, Rocha afirmou que o BC atualizará suas projeções sobre o segmento em seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI), a ser divulgado na quinta-feira.
No mês passado, a inadimplência no segmento de recursos livres ficou em 4,5%, repetindo a mesma taxa do mês anterior.
Já os juros cobrados pelas instituições financeiras no crédito livre ficaram em 44,2%, um aumento de 0,7 ponto percentual em relação ao mês anterior. Por outro lado, nos recursos direcionados, houve recuo de 0,8 ponto no mês, a 11,0%.
O spread bancário, diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa final cobrada do cliente, aumentou para 31,6 pontos percentuais nos recursos livres, contra 30,6 pontos no mês anterior.
(Por Camila Moreira e Luana Maria Benedito)