Por Marta Nogueira e Nayara Figueiredo
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O consumo brasileiro de biodiesel deve alcançar 7,3 bilhões de litros em 2023, uma alta de 15,5% em relação ao ano anterior após a definição sobre a mistura do biocombustível ao diesel, estimou nesta terça-feira a consultoria StoneX.
No entanto, os analistas alertaram em relatório que há incertezas sobre a disponibilidade de óleo de soja --principal matéria-prima do biodiesel no Brasil-- para atender a nova demanda interna, visto que as exportações do produto estão aquecidas.
As projeções sobre o consumo de biodiesel para este ano consideram a mudança na mistura de B10 (com 10% do biocombustível adicionado ao diesel) para B12 de abril a dezembro, definida no mês passado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A expectativa é avançar gradativamente ao B15 até 2026.
"A safra recorde de soja brasileira deve garantir uma produção também recorde do óleo, mas com as exportações surpreendentemente fortes no 1º trimestre e a quebra de safra na Argentina, há preocupações quanto à disponibilidade da principal matéria-prima para biodiesel no mercado doméstico", disse a StoneX.
A Argentina é a maior exportadora global de óleo e farelo de soja, mas atravessou uma seca que devastou grande parte das lavouras da oleaginosa nesta temporada.
"A Argentina deve aumentar suas importações da oleaginosa brasileira para conseguir arcar com seus compromissos comerciais. No entanto, parte da demanda global deve ficar desassistida pela Argentina, deixando um share do mercado que pode ser preenchido pelo Brasil", acrescentou.
Com base em dados do governo federal, a StoneX ressaltou que os embarques de óleo de soja durante o primeiro trimestre deste ano ultrapassam os já elevados volumes de 2022, totalizando até o momento 654,3 mil toneladas, alta de 46% no comparativo anual e 155% acima da média dos últimos 10 anos.
Além da questão da oferta para a fabricação do biodiesel, há também o potencial impacto altista para as cotações do biocombustível.
"Desta forma, o acompanhamento das exportações brasileiras nos próximos meses será de suma importância para entender melhor como ficará o balanço final do óleo e seu potencial impacto nos preços do biodiesel", afirmou a consultoria.
DIESEL
O consumo de diesel B (puro, sem adição de biodiesel) no Brasil deverá atingir 64 bilhões de litros neste ano, alta de 1,3% ante 2022, segundo estimativas da StoneX.
Apesar de uma demanda negativa em janeiro e fevereiro, a StoneX pontuou que as vendas do combustível devem se intensificar ao longo do segundo e terceiro trimestre, com crescimento econômico, aceleração das importações e expansão da produção de soja e milho.
"Os dois primeiros meses foram marcados por uma demanda levemente desaquecida, com as vendas acumuladas de diesel pelas distribuidoras alcançando 9,34 milhões de m³ – queda de 2,3% frente ao observado no mesmo período de 2022", disse a StoneX.
"Apesar disso, as importações do diesel em março já indicam um avanço forte da demanda doméstica."
O Brasil importou em março cerca de 1,7 bilhão de litros de óleo diesel, alta de 43% frente ao mesmo período do ano anterior, disse a StoneX, citando dados do governo.
No acumulado do ano, as compras externas somam 3,49 bilhões de litros, alta de 11% ante um ano antes, com os principais fornecedores sendo os Estados Unidos, Índia, Emirados Árabes Unidos e Rússia.
No caso da Rússia, o Brasil importou cerca de 354 milhões de litros neste ano, contra 123 milhões em todo 2022, destacou a StoneX, em meio ao embargo de produtos russos pela Europa.
O diesel é um importante indicador da atividade econômica. A consultoria informou que considerou em sua estimativa uma revisão positiva das perspectivas de uma expansão do PIB em 0,1 p.p., pelo Boletim Focus, totalizando alta anual de 0,9%.
Além disso, a StoneX apontou estimativas de expansão da produção de soja e de milho em 2023 pela consultoria de 23,9% e 6,3%, respectivamente, o que reforçaria a perspectiva de manutenção do crescimento do consumo de diesel B no país, em meio à uma tendência de expansão do plantio e colheita de alguns cultivos agrícolas nos próximos meses.
(Por Marta Nogueira e Nayara Figueiredo)