Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), foi preso na manhã desta terça-feira acusado de participar de um esquema de corrupção no governo municipal, segundo a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
Para o MP, Crivella era o chefe de uma organização criminosa que recebeu mais de 53 milhões de reais em propina ao longo do mandato.
Crivella, cujo mandato termina no dia 31 deste mês, negou envolvimento no esquema e se disse vítima de perseguição política por combater a corrupção na cidade. Ele tentou a reeleição no pleito municipal deste ano, mas foi derrotado no segundo turno pelo ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).
Como o vice-prefeito eleito morreu ao longo do mandato, o presidente da Câmara Municipal, Jorge Felipe (DEM), assume o comando da cidade.
Crivella foi preso em sua casa, na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense.
Outras pessoas que seriam ligadas ao suposto esquema também são alvos de mandados de prisão.
O esquema de cobrança de propina passaria por contratos da Riotur, de acordo com as apurações. As investigações começaram em 2018 e o ponto de partida foi a delação de um doleiro.
Neste ano, o MP e a polícia já tinham cumprido um mandado de busca e apreensão na casa de Crivella no âmbito da operação QG da Propina. À época, a polícia revelou que Crivella chegou a telefonar para um empresário para alertar sobre a operação, mas ao perceber que do outro lado da linha estava um policial, desligou.
Crivella foi levado para Cidade da Polícia e chegou ao local de terno e sem algemas. Ele afirmou ser inocente e pediu justiça.
“Sou inocente e não sei o que está ocorrendo. Isso é perseguição política”, disse ele a jornalistas, “Lembrem que lutei contra empreiteiras, contra pedágio ilegal e injusto, tirei recursos do Carnaval, negociei VLT. Fui o governo que mais lutou contra a corrupção no Rio de Janeiro. Quero justiça”, acrescentou.
Durante a campanha eleitoral, Crivella chegou a dizer em um debate que os eleitores não deveriam votar em Paes pois o adversário seria preso.
A taxa de propina variava de 3% a 5% de recebíveis de empresas que tinham contratos com a prefeitura e incluídas na rubrica restos a pagar. Segundo o MP, o esquema de aliciamento de empresários para pagamento de propina começou antes mesmo de Crivella ser eleito.
“É uma denuncia amparada, com farta prova documental, corroboração, com prioridade de pagamentos; tem diálogos explícitos”, disse o promotor Ricardo Martins.
O MP disse que a prisão se fez necessária, mesmo faltando poucos dias para o fim do mandato, porque havia indícios de que os crimes poderiam continuar mesmo após Crivella deixar o governo municipal.
“A prisão era necessária porque a organização não se esgotaria com término do mandato, uma vez que processos de lavagem de dinheiro e arrecadação se perpetuariam e não paralisariam em 31 de dezembro", disse Martins.
“A prisão preventiva visa a paralisação da atividade criminosa”, acrescentou.
A Justiça determinou o bloqueio de cerca de 53 milhões de reais para compensar as perdas causadas pelo grupo criminoso. O prefeito também foi afastado das funções de prefeito por decisão da Justiça.
Ao longo dos últimos anos os escândalos de corrupção no Rio já levaram à prisão os ex-governadores Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco. O atual governador afastado do Rio, Wilson Witzel, também já foi alvo de operações de busca e apreensão e responde a processo de impeachment.