Por Katya Golubkova e Michel Rose e Manoj Kumar
NOVA DÉLHI (Reuters) - A cúpula do G20 em Nova Délhi terminou neste domingo, com a Índia entregando a presidência do bloco ao Brasil, enquanto os EUA e a Rússia elogiaram o consenso que não condenou Moscou pela guerra na Ucrânia mas pediu aos Estados membros que evitassem o uso da força.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pediu aos líderes do grupo que realizassem uma reunião virtual em novembro para analisar o progresso das políticas sugeridas e metas anunciadas neste fim de semana.
"É nossa responsabilidade analisar as sugestões que foram feitas para ver como o progresso pode ser acelerado", disse ele em um comunicado.
No sábado, o grupo adotou uma Declaração dos Líderes que evitou condenar a Rússia pela guerra, mas destacou o sofrimento humano que o conflito causou e pediu a todos os Estados que não usassem a força para tomar territórios.
O consenso foi uma surpresa. Nas semanas que antecederam a reunião de cúpula, opiniões muito diferentes sobre a guerra ameaçaram inviabilizar o encontro, com as nações ocidentais exigindo que os membros condenassem Moscou pela invasão e a Rússia dizendo que bloquearia qualquer resolução que não refletisse sua posição.
O Ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, chefe da delegação russa, disse que a cúpula foi um sucesso para a Índia e para o Sul Global, os países em desenvolvimento do mundo.
A posição do Sul Global nas negociações ajudou a evitar que a agenda do G20 fosse ofuscada pela Ucrânia, disse ele em uma coletiva de imprensa.
O assessor de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse aos repórteres que a declaração da cúpula "faz um trabalho muito bom ao defender o princípio de que os Estados não podem usar a força para buscar a aquisição territorial ou para violar a integridade territorial e a soberania ou a independência política de outros Estados".
A Alemanha e a Grã-Bretanha também elogiaram a resolução, mas a Ucrânia disse que "não era motivo de orgulho".
O presidente francês Emmanuel Macron disse neste domingo que o G20, que foi fundado para resolver questões econômicas internacionais, não era necessariamente o lugar para esperar progresso diplomático na guerra na Ucrânia.
No entanto, ele disse que a declaração do G20 não foi uma vitória diplomática para a Rússia.
"Este G20 confirma mais uma vez o isolamento da Rússia. Hoje, uma maioria esmagadora dos membros do G20 condena a guerra na Ucrânia e seu impacto", disse Macron em uma coletiva de imprensa após a cerimônia de encerramento da cúpula.
O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, disse: "A invasão da Ucrânia pela Rússia é algo que pode abalar a base da cooperação no G20".
"Além disso, isso está tendo um grande impacto sobre a economia global por meio de consequências como o aumento contínuo dos preços dos alimentos e da energia."
A invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 deixou dezenas de milhares de mortos, deslocou milhões de pessoas e semeou a turbulência econômica em todo o mundo. Moscou, que diz estar conduzindo uma "operação militar especial" no país, nega ter cometido qualquer atrocidade.
A cúpula também admitiu a União Africana, que inclui 55 estados-membros, como membro permanente do G20, destacando a inclusão de mais países em desenvolvimento no bloco.
"Essa foi uma das mais difíceis cúpulas do G20 nos quase vinte anos de história do fórum... foram necessários quase 20 dias para chegar a um acordo sobre a declaração antes da cúpula e cinco dias aqui no local", disse Svetlana Lukash, negociadora do governo russo do G20, segundo a agência de notícias russa Interfax.
"Isso não se deveu apenas a algumas discordâncias sobre a questão da Ucrânia, mas também a diferenças de posições em todas as questões-chave, principalmente as questões de mudança climática e a transição para sistemas de energia de baixo carbono...".
Uma autoridade da União Europeia, que não quis ser identificada, disse no domingo que a guerra da Ucrânia era a questão mais polêmica nas negociações.
"Sem a liderança da Índia, isso não teria sido possível", disse a autoridade, acrescentando que o Brasil e a África do Sul também desempenharam um papel crucial na superação das diferenças.
(Reportagem adicional de Krishn Kaushik; redação de Sanjeev Miglani e Raju Gopalakrishnan)