O Brasil registrou, em 2022, déficit recorde na balança comercial de produtos químicos - foram US$ 63 bilhões, valor 36,4% superior ao total registrado em 2021, até então recorde de US$ 46,2 bilhões, e mais do que o dobro daqueles registrados no período anterior à pandemia (de US$ 32,0 bilhões em 2013 e de US$ 31,5 bi em 2019). Os números fazem referência à coleta de dados feita pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) desde 1989.
O déficit é resultado de US$ 80,3 bilhões de importação pelo País (equivale à aquisição de 57,4 milhões de toneladas), também o maior valor registrado ao longo de toda a série histórica de acompanhamento da balança comercial setorial pela Abiquim, e US$ 17,3 bilhões de exportações.
Na comparação com 2021, as importações cresceram 32,3%, em que pese uma redução de 5,1% nas quantidades físicas adquiridas. No consolidado de 2022, foram registrados relevantes aumentos de valores importados em praticamente todos os grupos de produto - 75,1% em defensivos agrícolas, 63,2% em produtos químicos inorgânicos e 27,9% em produtos químicos orgânicos diversos.
Já as exportações tiveram um aumento de 19,5% na comparação com o ano anterior - o que se deve, em grande medida, ao aumento de 23,7% dos preços médios e à "satisfatória performance nas vendas aos países europeus e latino-americanos, mesmo com as dificuldades econômicas de alguns vizinhos do Mercosul", de acordo com a associação.
Principais fornecedores
Em termos de localização geográfica das fornecedoras de produtos químicos para o Brasil, houve uma alta de 38% das importações originárias da Ásia (excluído o Oriente Médio), enquanto o crescimento médio das importações de todas as demais origens foi de 30%. Segundo a Abiquim, os números evidenciam a Ásia como principal fornecedora de produtos químicos para o Brasil (importações de US$ 24,3 bilhões) e com a qual se registra o maior desequilíbrio comercial setorial (déficit de US$ 22,4 bilhões).
Em termos de quantidades físicas, foram movimentadas 15,6 milhões de toneladas para os mercados de destino, redução de 3,4%, tendo reduções consideráveis nos volumes exportados de aditivos de uso industrial (-15,7%), de produtos petroquímicos básicos (-30,8%) e de resinas termoplásticas (-2,4%).
"Avaliando-se as trocas comerciais com os principais blocos econômicos regionais, em 2022, o Brasil foi superavitário apenas em relação aos vizinhos e históricos parceiros comerciais do Mercosul e da Aladi, com respectivamente saldos comerciais de US$ 1,5 bilhão e de US$ 28 milhões. Entretanto, foram novamente registrados resultados negativos expressivos em relação à União Europeia e ao Nafta (América do Norte), que somados ultrapassaram um déficit agregado de US$ 25,0 bilhões, além do mencionado crescente desbalanceamento com a Ásia (déficit com essa região se amplia de US$ 16 bilhões, em 2021, para US$ 22 bilhões, em 2022)", pontua a Abiquim.
Na visão da associação, o Brasil precisa, agora, customizar uma Política Industrial Setorial baseada nas vantagens comparativas brasileiras, fortalecendo a competitividade doméstica e viabilizando um cenário favorável ao desenvolvimento sustentável.
"Precisamos aprender rapidamente com os exemplos da experiência internacional que estão dando certo. Casos como os EUA, em especial com as políticas que foram implementadas para o seu shale gas, - e que já resultaram em mais de US$ 200 bilhões de investimentos; e da Índia, que pensando o setor de uma maneira estratégica, estabeleceu plataformas regionais de investimento produtivo que, em menos de uma década, já a colocaram entre as 10 maiores indústrias químicas no mundo", avalia Fátima Giovanna, diretora de Economia e Estatística da Abiquim.