Por David Morgan e Susan Cornwell e Joseph Ax
WASHINGTON (Reuters) - Parlamentares democratas da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos planejam apresentar acusações de má conduta na próxima segunda-feira, o que poderia levar ao segundo processo de impeachment aberto contra o presidente Donald Trump, afirmaram duas fontes familiarizadas com o assunto, após uma multidão violenta de apoiadores de Trump invadir o Capitólio norte-americano em um ataque à democracia do país.
Com a maioria na Câmara, os democratas parecem determinados a fazer história: nenhum presidente norte-americano sofreu dois processos de impeachment antes.
Mas não está claro se os parlamentares conseguiriam remover Trump do cargo, já que um processo de impeachment levaria a um julgamento no Senado, onde seus colegas republicanos detêm a maioria.
Importantes democratas pediram que o vice-presidente Mike Pence e o gabinete de Trump evocassem a 25ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que permite a remoção do presidente caso ele esteja inapto a exercer seus deveres oficiais. Pence se opõe à ideia, segundo um assessor.
Os democratas, que disseram que a votação do impeachment poderia acontecer no decorrer da semana, esperam que a ameaça de impeachment possa intensificar a pressão sobre Pence e o gabinete para agir pela remoção de Trump antes do final de seu mandato em duas semanas.
Fontes disseram que os artigos de impeachment, que são as acusações formais de má conduta, foram elaborados pelos deputados democratas David Cicilline, Ted Lieu e Jamie Raskin.
Uma cópia da medida circula entre membros do Congresso e acusa Trump de "incitação de violência contra o governo dos Estados Unidos" em uma tentativa de reverter sua derrota para Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020.
Os artigos também citam a ligação de uma hora de duração de Trump com o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, na qual ele ordena que se "encontrem" mais votos para reverter a vitória de Biden no Estado.
Ao deixar o Capitólio após uma teleconferência de mais de três horas com os democratas da Câmara, Pelosi afirmou a jornalistas que "a conversa vai continuar. Temos várias opções até agora" para possivelmente remover Trump do cargo.
"DESEQUILIBRADO"
Pelosi chamou Trump de "desequilibrado" nesta sexta-feira e disse que o Congresso precisa fazer o possível para proteger os norte-americanos, apesar do mandato de Trump acabar no dia 20 de janeiro, quando Biden será empossado.
Pelosi também disse que havia conversado com o general de mais alta patente no país, o chefe do Estado-Maior Conjunto, Mark Miley, sobre prevenir que Trump inicie hostilidades ou lançamento de uma arma nuclear.
O desenrolar extraordinário acontece dois dias após Trump incentivar centenas de seus apoiadores a marcharem até o Capitólio, levando a uma cena caótica na qual multidões quebraram a segurança e invadiram o prédio, forçando a retirada de pessoas de ambas as Câmaras e deixando cinco mortos, incluindo um policial.
O senador Ben Sasse, de Nebraska, disse que avaliaria o apoio a um processo de impeachment. Sasse, um crítico de Trump, disse à CBS News na sexta-feira que "certamente consideraria" o pedido de impeachment pois o presidente "desrespeitou seu voto".
A senadora republicana Lisa Murkowski disse que Trump deveria renunciar imediatamente e que se o partido não conseguir se separar dele, ela não tem certeza sobre seu futuro na legenda.
Aliados de Trump, incluindo o senador Lindsey Graham e o líder republicano na Câmara, Kevin McCarthy, pediram que os democratas descartem discussões sobre impeachment para evitar aumentar as divisões.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos conduzida quinta e sexta-feira mostrou que 57% dos norte-americanos querem que Trump seja removido imediatamente do cargo após ele incitar milhares de seus seguidores a marcharem para o Capitólio. Cerca de 70% também desaprovaram as ações de Trump antes da invasão do Capitólio.
Se a Câmara aprovar o impeachment de Trump, a decisão de removê-lo ou não caberá ao Senado, controlado pelos republicanos, que já o absolveu antes. Como o Senado retorna do recesso no dia 19 de janeiro, as chances de um impeachment parecem poucas.
A remoção de um presidente dos Estados Unidos necessita dos votos de uma maioria de dois terços no Senado. O senador republicano Mitch McConnell, líder da maioria republicana na casa, não comentou sobre a possibilidade.