MOSCOU (Reuters) - Os desenvolvedores da vacina russa contra Covid-19 Sputnik V rejeitaram as críticas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, dizendo nesta terça-feira que a recusa brasileira de aprovar a vacina para uso não tem justificativas científicas.
A diretoria da Anvisa votou de forma unânime contra um pedido de importação da vacina depois que técnicos alertaram para falhas em seu desenvolvimento, além dos dados incompletos a respeito da segurança e da eficácia da vacina.
Governadores brasileiros haviam pedido permissão para usar a Sputnik V no combate a uma segunda onda mortal do vírus.
Uma questão crucial para a Anvisa foi o risco de outros vírus usados para fabricar a vacina se reproduzirem nos pacientes, o que o diretor de medicamentos e produtos biológicos da agência, Gustavo Mendes, classificou com um defeito "grave".
Denis Logunov, o principal desenvolvedor da Sputnik V, negou que os dois vetores virais, ou adenovírus, usados para produzir a vacina contra Covid-19 possam se duplicar.
Ele disse que cada remessa passou por verificações rigorosas tanto do Instituto Gamaleya quanto da agência reguladora de saúde da Rússia e que nenhum deles apontou a presença de adenovírus que podem se duplicar.
"A vacina é limpa... e não contém adenovírus capazes de duplicação", disse Logunov aos repórteres.
Ele ainda disse que a vacina passou por um processo de limpeza e filtragem de quatro estágios, o que afirmou ser raro entre fabricantes de vacina.
"Isto torna nossa produção muito mais cara, porque perdemos uma parte de nosso produto. Mas alcançamos um nível incrível de pureza."
Como a vacina da AstraZeneca, a Sputnik V é uma vacina de vetor viral. Ela utiliza adenovírus para transportar as informação genéticas necessárias para gerar imunidade contra a Covid-19 no organismo, mas é concebida para privar estes vetores da capacidade de se duplicar.
O Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), que comercializa a Sputnik V no exterior, disse na segunda-feira que a Anvisa recebeu acesso total às instalações de pesquisa e produção do imunizante.
O RDIF disse ainda que a rejeição da Sputnik V pela Anvisa pode ter tido motivação política devido à pressão dos Estados Unidos, e que a vacina já foi aprovada para uso em 61 países.
O programa de vacinação do Brasil está sendo assolado por atrasos e problemas de aquisição, o que torna o país um dos focos mais mortíferos de Covid-19 neste ano e está levando o sistema nacional de saúde à beira do colapso.
Nesta terça, em audiência na Câmara dos Deputados, Mendes, da Anvisa, disse que os dados a que a agência teve acesso a levaram a concluir que o balanço risco-benefício da Sputnik V não compensam, mas afirmou que a porta não está fechada para a vacina russa, já que informações e documentos que a Anvisa afirma não ter recebido podem ser entregues e ainda existem outros procedimentos no órgão regulador tratando da Sputnik V.
(Por Polina Ivanova)