Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar terminou no menor patamar desde meados de junho nesta segunda-feira, com o real entre as divisas de melhor desempenho no dia, na esteira da fraqueza da moeda norte-americana no exterior, nova alta das commodities e expectativas de fluxo ao Brasil.
Na mínima, a taxa à vista caiu 1,34%, a 5,011 reais, menor valor intradiário desde 13 de junho, dia em que o piso para o dólar ficou abaixo de 5 reais (4,9893 reais).
No fechamento, o dólar recuou 0,91%, a 5,033 reais na venda, menor valor para um encerramento de sessão desde 15 de junho (5,0278 reais).
Lá fora, um índice da moeda norte-americana caía 0,35%, e vários pares do real --também correlacionados aos preços das commodities-- apreciavam.
O real seguiu amparado por uma combinação de retornos mais altos da renda fixa, com ciclo de alta de juros provavelmente terminado, "valuation" atrativo e perspectiva de mais vendas de produtos agrícolas do Brasil à China.
As indicações de atividade econômica brasileira resiliente apesar das incertezas domésticas e globais também têm chamado atenção, atraindo fluxo estrangeiro para a bolsa, o qual passa pelo mercado de câmbio.
"A recuperação das commodities explica esse desempenho superior do real", disse Rodolfo Margato, economista da XP (BVMF:XPBR31), lembrando que a moeda brasileira vinha de um ponto de partida mais fraco no fim de maio e por algumas semanas posteriormente registrou depreciação mais forte que alguns de seus pares.
Desde meados de julho, quando tocou uma mínima desde fevereiro, o índice CRB de matérias-primas --referência global como medida dos preços de uma cesta de produtos básicos-- saltou 10,4%. Apenas nesta segunda, os preços internacionais do barril do petróleo subiram mais de 4%.
"Temos visto movimento de exportadores que vinham mantendo divisas em moedas globais internalizando recursos", acrescentou o economista da XP, que ainda prevê dólar em 5 reais ao fim deste ano.
Pelos dados mais recentes do Banco Central, na semana entre 15 e 19 de agosto o fluxo de câmbio contratado para operações comerciais foi superavitário em 1,115 bilhão de dólares --melhor resultado desde a semana finalizada em 1º de julho.
E as notícias seguem indicando mais entradas de recursos via exportação. A Abiove estimou nesta segunda-feira que a produção brasileira de soja deve alcançar um recorde em torno de 151 milhões de toneladas na safra 2022/23. Para 2022, a associação já havia calculado aumento de 20% nas receitas com vendas do complexo soja em relação a 2021, para 57,8 bilhões de dólares.
Considerando o fluxo geral, o Banco MUFG Brasil prevê déficit em conta corrente de 18 bilhões de dólares para o país em 2022, valor considerado pelo banco ainda "pequeno" para os padrões brasileiros e "facilmente financiado" pelo investimento direto produtivo, estimado em 55 bilhões de dólares.
Os economistas do MUFG Carlos Pedroso e Mauricio Nakahodo, preveem, contudo, alguma redução na entrada líquida de investimentos estrangeiros em renda fixa, devido ao aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, com potencial corte no incentivo para operações de "carry-trade" (arbitragem com taxa de juros).
(Por José de Castro; Edição de Isabel Versiani)