SÃO PAULO (Reuters) - A incidência de greening no cinturão citrícola brasileiro aumentou para 38% em 2023, de 24,4% no ano passado, no maior salto em pontos percentuais da doença que afeta os laranjais de toda série histórica desde 2008, apontou nesta quinta-feira levantamento do Fundecitrus.
O estudo do órgão de pesquisas aponta para crescimento de 56% do greening em São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, principal região produtora de laranja para a indústria do Brasil, maior produtor global da fruta e do suco.
O greening, mais grave doença da citricultura que colaborou para uma derrocada da produção da Flórida e tem limitado a safra de laranja no Brasil, foi registrado em aproximadamente 77 milhões de árvores, do total de 202,88 milhões de laranjeiras em todo o parque citrícola.
"É um momento bastante delicado. Estamos em uma situação em que o manejo correto será determinante para reduzir a incidência", disse o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, em comunicado.
Este aumento da incidência da doença, pelo sexto ano consecutivo, ocorre com maior resistência do psilídeo (inseto vetor da bactéria que causa o greening) a inseticidas, além de falhas de manejo e clima favorável às brotações e ao crescimento da população do inseto, segundo o Fundecitrus.
A incidência aumentou consideravelmente em todas as regiões e tamanhos de propriedades, mas aquela com maior registro continua sendo Limeira (73,87%), seguida por Brotas (68,53%), Porto Ferreira (59,65%), Duartina (55,66%) e Avaré (54,79%).
Neste ano a região de Altinópolis passou a fazer parte desse grupo com alta incidência de greening (40,60%), acrescentou o Fundecitrus.
Chamou a atenção do Fundecitrus o considerável aumento em pontos percentuais das regiões de Bebedouro e Matão (respectivamente, 12,94 e 8,90) em relação a 2022, "pois nessas regiões a doença estava se mantendo estável ou diminuindo nos últimos cinco anos".
Segundo o Fundecitrus, uma das principais causas do avanço da doença citrícola, que não tem cura, tem sido a prática de se manter árvores doentes em pomares comerciais, principalmente das árvores em produção, com controle insuficiente do psilídeo.
"Isto tem propiciado, ano após ano, o aumento da população de psilídeos infectivos também dentro dos pomares comerciais e, consequentemente, o aumento da incidência de greening", comentou o pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi.
"A não rotação adequada de inseticidas com diferentes modos de ação, adotada por grande parte dos citricultores, levou à rápida seleção de populações do psilídeo resistentes a esses dois grupos de inseticidas, e a consequente perda de eficácia desses produtos no campo", acrescentou.
Para reverter este quadro, defende o Fundecitrus, é preciso que haja a interrupção do uso desses inseticidas por todos os citricultores das regiões com problema de controle por no mínimo três meses e que se adote a rotação de inseticidas de outros grupos químicos.
A safra de laranja 2023/24 da área citrícola de São Paulo e Minas Gerais está estimada em 309,34 milhões de caixas de 40,8 kg, queda de 1,55% ante temporada anterior, de acordo com o Fundecitrus, na terceira safra consecutiva com patamares mais baixos de produção.
(Por Roberto Samora)