Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O governo estuda alternativas para novo programa de ajuda a empresas menores, sendo que todas envolvem aporte do Tesouro em meio à avaliação de que, mesmo com mais liquidez, muitos bancos não estão emprestando pelo risco de inadimplência em meio à crise com o coronavírus, disse o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.
Após lembrar que o programa de financiamento à folha de pagamentos já anunciado contempla apenas empresas com faturamento anual de 360 mil a 10 milhões de reais, Mansueto frisou que "está se estudando algo adicional" em conversa virtual promovida pela Genial Investimentos neste sábado.
Segundo Mansueto, a delimitação no financiamento à folha ocorreu porque, abaixo do piso estabelecido para a receita bruta das empresas, o Banco Central não consegue identificar se os recursos estão sendo canalizados de fato para o pagamento de salários --uma das premissas do programa.
Agora, o governo se debruça sobre propostas diferentes para contemplar empresas menores. Sem dar detalhes, Mansueto falou que estão sobre a mesa uma iniciativa planejada pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), uma pensada pelo Banco Central e que está em discussão na secretaria de Política Econômica, e outra da secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade.
"Em todas elas tem ... o Tesouro por trás porque o risco é muito grande", disse Mansueto. "Logo a gente vai definir, vai arbitrar qual será o modelo escolhido dos três, quatro que estão em discussão. Ou então dos quatro talvez dois deles sejam implementados", afirmou.
"Qualquer programa pra chegar principalmente em pequena empresa tem que ter Tesouro. Quando se fala em Tesouro Nacional, se fala na verdade dinheiro do contribuinte por trás, porque caso contrário isso não vai pegar. E dá para justificar porque esses programas vão ter efeito muito grande na manutenção de emprego."
REFORMAS NO HORIZONTE
Mansueto reconheceu que o momento é de discutir medidas de auxílio emergencial, mas voltou a reforçar que o país deve limitar os efeitos das ações a este ano, para depois voltar às reformas estruturais e ao avanço de privatizações e concessões.
"Quanto mais ousado o Brasil for na agenda de reformas e isso nos levar a aumento de confiança dos investidores, aumento do PIB potencial, melhor será. A gente não vai ficar dependendo, por exemplo, de aumento de imposto para pagar conta da crise", disse.
Entre as iniciativas de mais fácil aprovação passada a urgência da crise, ele citou a independência do Banco Central, agenda de abertura comercial e algo ligado à reforma tributária. Mas ponderou ser impreciso cravar se isso será possível ainda neste ano ou apenas no próximo.
Sobre a performance do PIB, Mansueto disse ser difícil estimar se o crescimento econômico será "zero, -1, -2 ou -3 neste ano, e como isso vai afetar a base de arrecadação este ano e logo o recolhimento de impostos no próximo ano".
A despesa, reforçou ele, estará no teto de gastos em 2021, razão pela qual essa ponta dos gastos o preocupa menos.
Ecoando comentários recentes do presidente do BC, Roberto Campos Neto, Mansueto também afirmou ser preciso muito cuidado para não desorganizar e descumprir contratos no atual momento.
"Se a gente no meio dessa crise começa a tumultuar relações privadas, começa a criar despesa permanente, aí eu teria medo, aí eu teria muito medo do que seria o pós-crise", disse.
"Enquanto a gente não fizer isso, com esse cenário que a gente tem hoje de inflação muito baixa, juros muito baixos, despesa temporária circunscrita a este ano, eu fico mais tranquilo, apesar de a gente sair da crise com a dívida muito maior", completou.