Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou nesta terça-feira servidores públicos que têm pedido aumento salarial, alegando que isso traria inflação e que um reajuste geral seria um desastre similar ao do rompimento da barragem de Brumadinho.
Nas declarações, enviadas em grupos de mensagens de celular compostos por membros do governo Jair Bolsonaro, Guedes afirma que se o governo aumentar salários "e a doença voltar", em referência à pandemia do Covid-19, o país vai quebrar.
"Quem pede aumento agora não quer pagar pela guerra contra o vírus. Está dizendo 'já tomei minha vacina, agora quero reposição de salário: não vou pagar pela guerra ao vírus'", afirmou ele num trecho das mensagens.
"Reajuste geral para funcionalismo é inflação subindo, Brumadinho e Macri nas eleições! Brumadinho: pequenos vazamentos sucessivos até explodir barragem e morrerem todos na lama", prosseguiu o ministro.
Guedes lembrou o aumento autorizado pelo governo a policiais e citou categorias que passaram a demandar reajuste, como servidores da Receita Federal e do Banco Central, antes de pontuar que agora todos pedem o benefício.
Segundo ele, não haveria problema em conceder reajustes dentro de um plano de reestruturação de carreiras, após a aprovação da reforma administrativa, travada no Congresso.
"A reforma administrativa corta 30 bilhões [de reais] por ano: poderia aumentar 10% salários do funcionalismo após a reforma, valorizando o funcionalismo atual, pois ficaria zero a zero", afirmou Guedes.
Procurado, o Ministério da Economia afirmou que não comentaria o assunto.
Guedes já havia se posicionado publicamente na entrevista de balanço de 2021, antes do recesso de Natal. Na ocasião, ele disse que um benefício generalizado ao funcionalismo traria de volta inflação e endividamento.
"Se todos tiverem esses aumentos, é uma desonra com as futuras gerações. A inflação vai voltar, vamos mergulhar no passado, vamos nos endividar em bola de neve de novo, os juros vão continuar altos, a inflação terá alta permanente e o Brasil vai mergulhar em um passado conhecido tenebroso", disse então.
Na semana passada, o Congresso Nacional aprovou o Orçamento de 2022 com previsão de 1,7 bilhão de reais para reajuste de salários de policiais federais e policias rodoviários federais, beneficiados após negociação com Bolsonaro.
Isso criou insatisfação em outras áreas do funcionalismo que estão sem reajuste desde o início da atual gestão. Auditores da Receita Federal, por exemplo, entregaram cargos de chefia e anunciaram redução das atividades para pressionar o governo a liberar recursos ao órgão e regulamentar o pagamento de bônus.