Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Após desentendimentos nos últimos dias, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), saíram de um jantar com outras autoridades na segunda-feira trocando elogios e pedidos de desculpas e prometendo voltar a trabalhar juntos na agenda econômica do governo.
"Quero agradecer e retribuir ao Rodrigo... neste ano trabalhamos juntos no enfrentamento da pandemia”, disse Guedes ao sair de um jantar promovido para tentar uma reaproximação entre ambos.
"Caso eu tenha ofendido o presidente Rodrigo Maia, ou qualquer político que eu possa ter ofendido inadvertidamente, eu peço desculpas também", completou.
Maia, por sua vez, pediu desculpas por declarações na semana passada, quando disse ter sido indelicado e grosseiro e defendeu que a situação no Brasil requer diálogo e equilíbrio.
"Nos meses seguintes à Previdência, por divergências e erros, e eu assumo os meus, fomos nos afastando. Agora na pandemia, mais ainda. Na semana passada, e deixo aqui meu pedido de desculpas, fui indelicado e grosseiro. Não é do meu feitio", disse Maia na saída do encontro.
Nas últimas semanas, Maia e Guedes escancararam uma briga que já vinha nos bastidores e em alfinetadas eventuais. Depois do ministro da Economia, em uma entrevista, acusar o presidente da Câmara de se aliar à esquerda para barrar privatizações, Maia respondeu que Guedes estava "desequilibrado".
O jantar, organizado pelos senadores Kátia Abreu (PP-TO) e Renan Calheiros (MDB-AL), na casa do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas, foi marcado para tentar amenizar os ânimos. Tanto Maia quanto Guedes seguiram o script e saíram com pedidos de desculpas e defesa das reformas.
Em rápida declaração, Guedes disse que vai ter que haver uma aterrissagem do auxílio emergencial pago durante a pandemia e que o governo prepara um programa robusto, sem entrar em detalhes. Falou também da necessidade de um programa de criação de empregos em massa.
O Renda Cidadã tem sido um dos pontos mais recentes de atrito entre Guedes e o Congresso. O ministro avalizou e depois negou que tenha concordado com a mais recente versão do financiamento do programa, que previa usar recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e de precatórios.
O recuo, depois da reação negativa do mercado financeiro, irritou os líderes do governo no Congresso e o relator do Orçamento, senador Márcio Bittar (MDB-AC), que estava negociando a criação e a inclusão do programa no Orçamento de 2021. Na segunda-feira, Guedes também se reuniu com Bittar para aparar arestas.
Depois do jantar, Maia escreveu em suas redes sociais, sem citar Guedes, que "a situação fiscal do Brasil hoje requer união, diálogo e equilíbrio".
"Sem as reformas, o país entrará numa crise econômica muito grave. A partir de amanhã, precisamos retomar os trabalhos em torno da agenda de reformas, que não vai parar independentemente das eleições municipais", afirmou.
Maia colocou como prioridades da pauta a regulamentação do teto de gastos e as reformas tributária e administrativa.
"Precisamos trabalhar unidos, juntamente com os líderes da Câmara e do Senado que compreendem a importância da modernização do Estado e da construção de um programa social dentro do teto de gastos, para poder dar suporte a milhões de famílias que vão precisar dessa ajuda em 2021", complementou.