(Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou nesta segunda-feira que o Brasil quer fechar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia ainda em 2023, porque há dúvidas sobre o que poderá ocorrer com o bloco sul-americano caso ocorra um resultado eleitoral "exótico" na Argentina.
"O presidente Lula está insistindo muito com a Europa, para que a gente feche o acordo este ano", disse Haddad, durante evento na Universidade de Columbia em Nova York, nos Estados Unidos". Ao citar a Argentina, um dos países fundadores do Mercosul, Haddad completou: "Não sabemos o que pode acontecer com um resultado eleitoral exótico”.
Os comentários de Haddad em relação ao futuro do acordo entre Mercosul e União Europeia foram feitos sem que o ministro citasse diretamente o nome do libertário radical Javier Milei, que saiu vitorioso nas primárias presidenciais de agosto na Argentina e atualmente lidera as intenções de voto para as eleições gerais de outubro.
Economista e ex-apresentador de TV, Milei tem agitado o establishment político argentino com críticas em voz alta e, às vezes, com palavrões contra seus rivais, além de promessas de fechar o banco central, reduzir o governo e dolarizar a economia.
Durante sua fala, Haddad também pontuou que alguns dos 13 países da América Latina estão em "situação dramática", com inflação em dois dígitos e crescimento baixo. Novamente, Haddad não citou diretamente a Argentina, que vem enfrentando uma inflação que poderá subir para perto de 200% até o fim do ano.
"Mas o Brasil está conseguindo até aqui oferecer um cenário econômico factível", acrescentou o ministro.
Ainda sobre o Brasil, Haddad afirmou que existe hoje uma dúvida entre os economistas sobre quando será atingida uma trajetória sustentável da dívida, mas procurou mostrar otimismo com as medidas que o governo está tomando para chegar a esse equilíbrio.
"A dúvida que ocupa a mente dos economistas é quando será possível oferecer uma trajetória sustentável (da dívida)", disse Haddad em evento em Nova York.
O ministro citou a aprovação do novo marco fiscal e o desafio de zerar o déficit nos próximos anos.
"A regra fiscal vai conduzir à sustentabilidade", disse.
Transformação ecológica
Haddad permanecerá em Nova York até quarta-feira para apresentar o plano de transformação ecológica do governo Lula a investidores, empresários, acadêmicos e membros da sociedade civil. Esta é a primeira agenda internacional sobre a pauta ecológica brasileira.
No evento da noite desta segunda-feira, ele voltou a defender que o Brasil tem "enorme potencial" para ajudar o mundo a encontrar o caminho da descarbonização.
"Há consciência entre os agentes que Brasil só perde desmatando a Amazônia", disse o ministro.
"Infelizmente, o mundo olha para o Brasil exclusivamente pela lente da preservação da Amazônia. Este olhar devia ser ampliado", acrescentou em outro momento.
Haddad disse ainda que o país tem "enorme potencial" para elevar a produção de energia limpa e defendeu a reforma tributária, que segundo ele vai zerar a possibilidade de o Brasil "exportar impostos" por meio de seus produtos.
Segundo o ministro, o Brasil tem condições de crescer acima da média mundial e com qualidade superior a de qualquer país do ponto de vista ambiental.
(Reportagem de Fabricio de Castro, em São Paulo)