Por Leika Kihara e Andrea Shalal
NIIGATA, Japão (Reuters) - Um impasse em Washington sobre o aumento do teto da dívida norte-americana ofuscou uma reunião dos líderes financeiros do Grupo dos Sete (G7) a partir desta quinta-feira, elevando os temores de uma recessão nos Estados Unidos, à medida que os bancos centrais buscam um pouso suave para a economia global.
O presidente do banco central do anfitrião Japão disse que a crise da dívida dos EUA pode ser discutida na reunião do G7, acrescentando que o grupo precisa estar pronto para responder a quaisquer repercussões do mercado.
"Tenho fé que as autoridades dos EUA farão o possível para impedir que isso aconteça", disse Kazuo Ueda a repórteres nesta quinta-feira, quando questionado sobre a chance de calote dos Estados Unidos.
"As consequências imediatas são algo com que as autoridades dos EUA terão de lidar. Mas (o grupo G7) provavelmente examinará a situação... e responderá conforme necessário", afirmou ele, acrescentando que as autoridades japonesas estão acompanhando de perto os acontecimentos.
Espera-se que a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, enfrente perguntas de seus colegas do G7, reunidos na cidade japonesa de Niigata, sobre como Washington pretende evitar a turbulência nos mercados financeiros, já nervosos após a recente quebra de três bancos regionais dos EUA e tensões na Europa.
"Um calote ameaçaria os ganhos que trabalhamos tanto para obter nos últimos anos em nossa recuperação pandêmica. E desencadearia uma crise global que nos atrasaria muito mais", disse Yellen em Niigata nesta quinta-feira.
O presidente norte-americano, Joe Biden, sinalizou a chance de cancelar sua viagem para a cúpula do G7 na próxima semana se o impasse da dívida não for resolvido a tempo, alertando que o fracasso em aumentar rapidamente o limite dos empréstimos permitido pelo governo dos atuais 31,4 trilhões de dólares pode levar a economia dos EUA à recessão.
A crise da dívida dos EUA é uma dor de cabeça para o Japão, que neste ano é o presidente do G7 e o maior detentor mundial da dívida dos EUA.
"O G7 não será capaz de encontrar uma solução para o que é um problema puramente doméstico e político dos EUA, embora o grupo possa reafirmar sua determinação de cooperar na estabilização dos mercados no pior cenário possível", disse Takahide Kiuchi, analista do Nomura Research Institute.
"Washington é o único responsável por consertar isso. Mas quando as coisas dão errado, todos os outros países carregam o peso."
Os chefes financeiros do G7 se reúnem em um momento em que o aperto monetário agressivo dos EUA e da Europa começa a pesar no crescimento global e alimenta o medo de instabilidade financeira.
Após a recente falência de bancos dos EUA, o G7 discutirá maneiras de fortalecer o sistema financeiro global e combater os riscos de corridas aos bancos digitais, dizem autoridades japonesas.
As tensões crescentes entre EUA e China também obscurecem as perspectivas para a economia global, que já está sob pressão de sinais de fraqueza na China, a segunda maior economia do mundo.
Yellen disse em entrevista coletiva que Washington estava considerando a chance de impor restrições ao investimento externo para a China para conter sua "coerção econômica" contra outros países.
Os Estados Unidos esperam discutir a ideia com seus aliados do G7 na reunião desta semana, acrescentou ela.