Por Jonathan Allen
MINEÁPOLIS (Reuters) - O julgamento do ex-policial Derek Chauvin, da cidade norte-americana de Mineápolis, pela morte de George Floyd deve começar nesta segunda-feira com a escolha dos jurados que analisarão as acusações de assassinato e homicídio culposo em um caso visto como um referendo sobre a violência policial contra os negros do país.
O juiz pediu três semanas só para a seleção do júri, ciente das dificuldades de se encontrar cidadãos imparciais em um caso que convulsionou os Estados Unidos e no qual uma imagem da vítima – uma selfie de Floyd sorrindo suavemente – se tornou um emblema internacional de justiça racial.
No ano passado, o tribunal enviou aos jurados em potencial um questionário detalhado de 16 páginas perguntando-lhes o que sabem sobre a morte de Floyd no dia 25 de maio em uma rua depois de ser detido diante de um mercadinho de Mineápolis.
Uma das perguntas era: você viu o vídeo da morte? Registrado por celulares de observadores e por câmeras corporais de policiais, ele mostra Chauvin, que é branco, ajoelhado sobre o pescoço de Floyd, um negro de 46 anos, durante quase nove minutos enquanto este, algemado, implora pela vida e diz não estar conseguindo respirar até perder a consciência.
Outra é: você participou dos protestos que se seguiram? Um vídeo com as palavras finais de Floyd – "não consigo respirar" – se disseminou na internet dentro de horas, desencadeando um dos maiores movimentos de protesto já vistos nos EUA. Houve marchas diárias em cidades de toda a nação denunciando a brutalidade policial e o racismo.
Outra foi: o que você pensa do movimento Black Lives Matter? Acredita-se que os advogados de Chauvin contestarão a escolha de jurados que demonstrarem apoio ao movimento contra o racismo no sistema de justiça.
Os advogados de Chauvin podem excluir até 15 jurados sem ter que citar um motivo, e os procuradores de Minnesota, nove. Se um lado suspeitar que o outro está contestando um jurado por causa da raça, etnia ou sexo, pode pedir que o juiz indefira a obstrução.
Alguns especialistas em justiça criminal temem que os 12 jurados restantes e os quatro de reserva não incluam nenhuma pessoa negra e que isto mine a percepção pública da validade de um veredicto futuro.
"Em um mundo ideal, você quer uma pessoa que não formou uma opinião. (Mas) você conhece uma pessoa negra que não tenha formado uma opinião sobre George Floyd?", ponderou Aviva Orenstein, professora de Direito da Escola Maurer da Universidade de Indiana em uma entrevista.