Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira com forte alta, superior a 10 pontos-base na maior parte dos vencimentos, com o mercado brasileiro acompanhando a disparada dos yields dos Treasuries, após dados do mercado de trabalho norte-americano elevarem a percepção de que um corte de juros nos Estados Unidos ocorrerá apenas mais à frente.
Bastante esperado, o relatório de empregos "payroll" mostrou que a economia norte-americana abriu 353.000 vagas de trabalho no mês passado, bem acima dos 180.000 postos projetados por economistas ouvidos pela Reuters. Já os dados de dezembro foram revisados para cima, mostrando 333.000 novos postos, em vez dos 216.000 informados anteriormente.
Além disso, a média de ganhos por hora aumentou 0,6% no mês passado, depois de subir 0,4% em dezembro. Nos 12 meses até janeiro, os salários aumentaram 4,5%, depois de avançarem 4,3% no mês anterior.
“Resumindo, os dados divulgados hoje mostram, inequivocamente, um mercado de trabalho americano ainda muito aquecido. As implicações para a política monetária do Federal Reserve são óbvias”, pontuou o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, em comentário enviado a clientes.
“Poderíamos descrever a situação atual da economia americana como sendo de uma desinflação com riscos. E esses riscos vêm do comportamento do setor de serviços, que deverá ser o foco das atenções do Federal Reserve, requerendo dose adicional de cautela”, acrescentou.
Os números fortes, divulgados às 10h30, impulsionaram quase que instantaneamente os rendimentos dos Treasuries, em meio à leitura de que a economia dos EUA segue aquecida demais para que o Federal Reserve inicie o ciclo de corte de juros já em março. De certo modo, os números do payroll corroboraram parte do discurso do chair do Fed, Jerome Powell, na quarta-feira, quando ele afirmou que o corte de juros em março não é provável e não é o cenário-base.
No Brasil, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) também dispararam após o payroll: a taxa do contrato para janeiro de 2027 saltou de 9,740% às 10h30 para 9,810% no minuto seguinte, depois da divulgação dos números. Na máxima do dia, às 12h36, marcou 9,915% -- alta de cerca de 17 pontos-base em relação ao ajuste da véspera.
Por trás do movimento estava a percepção de que, se os juros permanecerem elevados nos EUA por mais tempo, o espaço para cortes da taxa básica Selic no Brasil também diminui.Durante a tarde, as taxas dos DIs se acomodaram um pouco, mas ainda assim encerraram a sessão com ganhos de mais de 10 pontos-base.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 9,99%, ante 9,939% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,71%, ante 9,612% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 9,875%, ante 9,75%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,135%, ante 10,009%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,55%, ante 10,429%.
Perto do fechamento desta sexta-feira a curva a termo brasileira precificava 99% de chances de o corte da Selic em março ser de 0,50 ponto percentual, como vem sinalizando o Banco Central. Atualmente, a Selic está em 11,25% ao ano.
Às 16:35 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- subia 17,00 pontos-base, a 4,3637%.
Já o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 16,60 pontos-base, a 4,0294%.