(Reuters) - O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, relatou nesta quinta-feira ter dito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a suspensão do pagamento da dívida do Estado com a União seria um caminho mais rápido para os esforços de reconstrução do Estado do que o envio de recursos federais ao Rio Grande do Sul.
Em entrevista coletiva, o governador gaúcho argumentou que o uso de recursos do orçamento estadual envolveria menos burocracia do que o recebimento de verbas federais pelo Estado, permitindo assim um atendimento mais rápido à população.
"Vamos buscar fontes de recursos, se houver disponibilidade federal, tanto melhor, mas eu até recomendei ao presidente, encaminhando a solução que estamos pedindo em relação à dívida do Estado, nós passamos a ter fôlego para dar respostas diretamente, o que é muito mais efetivo e muito mais ágil. Se nós tivermos que captar recursos junto ao governo federal, você duplica o grau de burocracia", disse Leite.
"Se nos encaminharem, como nós pedimos, a suspensão por longo período -- é importante dizer, não por um período curto, mas por um longo período -- do pagamento da dívida do Estado junto à União, esses recursos que iriam para Brasília ficam aqui e aí nós podemos fazer a execução dessas obras que são críticas em muitas regiões", acrescentou.
Mais cedo, em cerimônia em Brasília para anunciar medidas federais de apoio ao Rio Grande do Sul, Lula disse que um anúncio sobre a dívida gaúcha com a União deve ser feito na segunda-feira.
De acordo com informações obtidas pela Reuters, o governo federal deve anunciar a suspensão do pagamento da dívida pelo Estado até 31 de dezembro deste ano.
Segundo dados do governo do Estado, isso geraria uma economia de 3,5 bilhões de reais que poderiam ser aplicados na reconstrução depois das enchentes. Na coletiva, Leite voltou a estimar em pelo menos 19 bilhões de reais o volume de recursos necessários para reconstruir o Estado.
A dívida total do Rio Grande do Sul com a União é de 92,8 bilhões de reais.
"A manifestação do presidente Lula (de enviar recursos federais ao Estado) nos alegra pela disponibilidade, mas eu disse a ele: 'nós temos um caminho muito mais fácil, muito mais ágil que é, em vez de me mandar um dinheiro para isso, faça com que eu deixe de mandar o que estou mandando para Brasília e esse dinheiro fica aqui e nós resolvemos esses problemas diretamente", disse Leite.
O Rio Grande do Sul foi devastado por chuvas que causaram enchentes históricas e deslizamento de terras, com pelo menos 107 mortos e 1,4 milhão de pessoas atingidas de alguma forma em 428 dos 497 municípios do Estado. O desastre destruiu estradas, pontes e deixou centenas de milhares de pessoas desalojadas na pior tragédia climática da história do Estado.
O governador disse ainda que a previsão para os próximos dias é de mais chuvas intensas no Rio Grande do Sul, o que deve provocar novos deslizamentos de terra. Ele fez um apelo para que as pessoas desalojadas pelas enchentes ainda não voltem para suas casas.
"Ainda é momento de muito cuidado", disse o governador. "Não é momento ainda de permitir, menos ainda de incentivar, que as pessoas voltem para casa em locais de risco. O solo está encharcado e altamente instável ainda, e com a chuva que vem pela frente, há possibilidade de novos deslizamentos."
Leite disse ainda que as chuvas previstas para os próximos dias também deverão incidir sobre as cabeceiras de rios, o que deve provocar novamente uma elevação dos níveis das águas e possivelmente agravar inundações.
(Reportagem de Eduardo Simões, em São Paulo)