Por Kate Abnett e Foo Yun Chee
BRUXELAS (Reuters) - Líderes da União Europeia (UE) pareciam nesta segunda-feira estar chegando perto de acordo sobre um massivo plano de estímulo para suas economias afetadas pelo coronavírus, depois que o presidente da cúpula do bloco apresentou nova proposta para fechar lacunas entre eles.
O presidente do Conselho da UE, Charles Michel, disse estar confiante de que os compromissos oferecidos por ele aos 27 líderes podem ser a base para um acordo sobre o fundo de recuperação de 750 bilhões de euros, que muitos dizem ser crítico para dissipar dúvidas sobre o futuro do bloco.
"Eu sei que os últimos passos são sempre os mais difíceis, mas... estou convencido de que um acordo é possível", disse ele a repórteres antes de retornar à cúpula.
A UE tem demorado a coordenar sua resposta inicial à pandemia do Covid-19, com o grupo tendo de lidar com a saída do Reino Unido do bloco, mas um acordo sobre ajuda econômica demonstraria aos eurocéticos que o bloco pode enfrentar uma crise e permanecer unido.
"Tem sido uma cúpula longa e desafiadora, mas vale a pena negociar o prêmio", disse o primeiro-ministro irlandês, Micheal Martin, enquanto a cúpula de Bruxelas entrava em seu quarto dia --aproximando-se do recorde de tempo de uma reunião de 2000 na cidade francesa de Nice.
Os países europeus fizeram um trabalho melhor em conter o coronavírus do que os Estados Unidos, após primeiros meses devastadores que atingiram particularmente Itália e Espanha, colaborando nas áreas médica, de viagem e econômica.
O Banco Central Europeu (BCE) injetou volume sem paralelo de recursos nas economias para mantê-las em funcionamento, enquanto as capitais da UE buscavam um acordo sobre o fundo de recuperação.
Diplomatas disseram que ainda não se sabe se os líderes poderiam deixar de lado o rancor que impediu um compromisso durante horas de discussões no fim de semana.
As emoções afloraram em um jantar na noite anterior, quando um grupo de nações do norte --conhecido por ser fiscalmente frugal e liderado pela Holanda-- manteve sua posição sobre o valor em doações dentro do fundo especial de recuperação de 750 bilhões de euros.
"EGOÍSTAS E MESQUINHOS"
O presidente francês, Emmanuel Macron, perdeu a paciência nas primeiras horas desta segunda-feira, batendo com o punho na mesa, frustrado com os "bloqueios estéreis" dos "frugais", disseram dois diplomatas.
O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, também criticou os "frugais", chamando-os de "um grupo de Estados egoístas e mesquinhos que olham as coisas de maneira muito estreita através do prisma de seus próprios interesses".
A Polônia seria uma importante beneficiária do pacote de recuperação, recebendo dezenas de bilhões de euros em doações e empréstimos baratos, juntamente com países do Mediterrâneo com alta dívida e que sofreram o impacto da pandemia na Europa.
Apesar dos contínuos conflitos retóricos, Macron e a chanceler alemã, Angela Merkel, pareciam otimistas de que poderia haver acordo sobre o pacote de estímulo e, a ele associado, o orçamento comum da UE para 2021-2027 de cerca de 1,1 trilhão de euros.
Esperanças de que um acordo ajude a Europa a enfrentar sua mais profunda recessão desde a Segunda Guerra Mundial reduziram os custos dos empréstimos da Itália ao menor patamar desde o início de março e elevaram o euro a uma máxima em 19 semanas.
Michel propôs que, dentro do fundo de recuperação de 750 bilhões de euros, 390 bilhões fossem doações não reembolsáveis, abaixo dos 500 bilhões originalmente propostos, e o restante fosse na forma de empréstimos reembolsáveis.
O documento de sua autoria, visto pela Reuters, também prevê que os planos nacionais de gastar dinheiro teriam de ser aprovados por uma maioria qualificada de governos da UE. Os Países Baixos pressionaram pelo veto à ajuda a países que retrocederam na reforma econômica.
O desembolso também estaria vinculado aos governos que observam o Estado de Direito. A Hungria, apoiada pela Polônia (aliado eurocético), ameaçou vetar o pacote se os fundos forem condicionados à manutenção da democracia.
(Reportagem adicional de Kate Abnett e Yun Chee Foo em Bruxelas, e de redações da Reuters em toda a Europa)