Por Trevor Hunnicutt e Jeff Mason
NASHVILLE, EUA (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o candidato democrata à Presidência do país, Joe Biden, ofereceram visões amplamente contrastantes sobre a pandemia de coronavírus no último debate entre ambos antes da eleição de 3 de novembro na quinta-feira, na tentativa de convencer os poucos eleitores ainda indecisos a 12 dias do pleito.
O republicano Trump adotou um tom mais contido do que no caótico primeiro debate em setembro, quando ele repetidamente interrompeu Biden. Mas o duelo de quinta também teve uma série de ataques pessoais entre dois homens que demonstram ter pouco respeito um pelo outro, e Trump manteve os checadores de fatos ocupados ao levantar acusações sem fundamento contra Biden e sua família.
A ausência de interrupções permitiu um debate mais substantivo sobre uma série de tópicos, incluindo economia, raça, mudança climática, saúde e imigração. Mas o coronavírus, que matou mais de 221 mil pessoas nos EUA, foi o tema principal, como aconteceu durante toda a campanha.
O encontro televisionado na cidade de Nashville, no Estado do Tennessee, representava uma das últimas chances de Trump de mudar os rumos de uma disputa que ele está perdendo há meses, embora a corrida esteja muito mais acirrada em Estados cruciais para decidir a eleição.
"Alguém que seja responsável por tantas mortes não deve permanecer presidente dos Estados Unidos", disse Biden durante o debate.
Trump, que colocou a gestão da economia durante seu governo como peça central de sua campanha, defendeu sua abordagem na pandemia e disse que o país não suportaria fechar negócios novamente, apesar de novos picos da Covid-19.
"Estamos aprendendo a viver com ele (vírus)", disse Trump, que por meses minimizou a pandemia. "Não temos escolha."
"Aprendendo a viver com ele?", Biden respondeu. "Qual é! Nós estamos morrendo com ele."
Trump afirmou que o vírus está "indo embora", mas vários Estados dos EUA registraram aumentos diários recordes em infecções por Covid-19 na quinta-feira, em uma evidência de que a pandemia está novamente acelerando.
O presidente, que continua a se apresentar como um outsider, retratou Biden como um político de carreira cujo histórico de quase 50 anos é insignificante. Mas ele não delineou uma agenda clara para um segundo mandato, enquanto Biden por diversas vezes criticou os quatro anos de governo do rival, apontando os danos econômicos que o vírus provocou na vida das pessoas.
Após um segmento de abertura sobre a pandemia, o embate de quinta-feira desviou para imputações mútuas de envolvimentos em situações inadequadas no exterior.
Trump repetiu suas acusações de que Biden e seu filho Hunter se envolveram em práticas antiéticas na China e na Ucrânia. Não foram encontradas provas que sustentassem as alegações, e Biden as rotulou de falsas e desacreditadas.
O esforço de Trump para descobrir podres sobre os negócios ucranianos de Hunter Biden levou à tentativa de impeachment contra o presidente. O presidente e seus filhos já foram acusados de terem seus próprios conflitos de interesse desde que Trump chegou à Casa Branca, em 2017, a maioria envolvendo os negócios internacionais imobiliários e hoteleiros da família.
"TOLICE"
Biden defendeu sua família e afirmou enfaticamente que jamais recebeu "um único centavo" de um país estrangeiro, e depois mudou de assunto e acusou Trump de tentar distrair os norte-americanos.
"Existe uma razão para ele estar abordando toda essa tolice", disse Biden, olhando diretamente para a câmera. "Não se trata da família dele e da minha família. Trata-se de sua família, e sua família está sofrendo muito."
Ele acusou Trump de sonegar impostos, citando uma investigação do jornal New York Times segundo a qual as declarações de imposto de renda do republicano mostram que ele praticamente não pagou estes tributos ao longo de mais de 20 anos.
"Divulgue suas declarações de imposto ou pare de falar de corrupção", disse Biden.
Trump, que rompeu com décadas de precedentes presidenciais ao se recusar a divulgar suas declarações de imposto de renda, disse ter pago "milhões", e voltou a dizer que divulgará suas declarações só depois que uma auditoria de longa duração for finalizada.
Os candidatos discutiram a respeito de política externa, imigração e --depois de meses de protestos antirracismo-- relações raciais. Biden disse que Trump é "um dos presidentes mais racistas" da história.
"Ele atira lenha em cada um dos incêndios racistas", afirmou o democrata.
Trump reagiu criticando a autoria de Biden em um projeto de lei de 1994 que aumentou o encarceramento de réus de minorias e ao mesmo tempo afirmou que fez mais pelos negros norte-americanos do que qualquer presidente, com a "possível" exceção de Abraham Lincoln durante a Guerra Civil dos anos 1860.
Durante um segmento sobre mudança climática, Biden disse que seu plano ambiental realizará a "transição do setor do petróleo" para fontes de energia renovável, o que levou Trump a dizer que o rival "destruirá" o setor petrolífero.
(Reportagem adicional de Doina Chiacu, James Oliphant e Jason Lange)