BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou nesta terça-feira que não serão tomadas medidas arriscadas para afrouxar o isolamento social do coronavírus e ressaltou que trabalhadores informais receberão ajuda do governo para que possam cumprir as recomendações, apesar de o presidente Jair Bolsonaro defender que as pessoas retornem ao trabalho.
No segundo dia que participa de entrevista coletiva sobre o novo coronavírus no Palácio do Planalto ao lado de outros ministros, Mandetta disse que se houver qualquer tipo de alteração no protocolo de atuação do ministério não será sem levar em conta "qualquer aspecto científico".
Mandetta tem discordado publicamente da posição de Bolsonaro quanto ao isolamento social para conter a disseminação do coronavírus. Enquanto o ministro defende as medidas de restrição recomendadas por especialistas e adotadas por diversos Estados, o presidente alega que os impactos econômicos serão maiores do que a própria doença, que já descreveu como "gripezinha".
"Nós não vamos fazer medidas que sejam arriscadas para o nosso povo enquanto nós não tivermos condições de trabalho", disse Mandetta na entrevista, em que recebeu o apoio de outros ministros, incluindo Paulo Guedes, da Economia, e Walter Braga Netto, da Casa Civil e responsável pela coordenação do comitê do governo de atuação no combate ao coronavírus, a respeito do isolamento.
"Nós não somos também um país que não está investindo para que o povo enfrente. Vocês viram os números do ministro Guedes... é uma das maiores alocações proporcionais do mundo. Isso precisa chegar nas pessoas para as pessoas saberem que não precisam se desesperar", acrescentou Mandetta.
Na mesma entrevista, Guedes disse que os trabalhadores informais poderão cumprir as medidas de isolamento porque terão ajuda do governo. Segundo ele, as medidas emergenciais para apoiar vulneráveis já estão em 200 bilhões de reais, entre elas um pagamento mensal de 600 reais.
Mandetta ainda ressaltou que será necessário ter paciência com as medidas de isolamento e voltou a defender a manutenção das ordens de restrição de locomoção dos governos estaduais, afirmando que a luta será grande. "Vamos ter que ter muita paciência e resiliência", reforçou.
O ministro ressalvou que o isolamento absoluto "não é bom para ninguém" e pediu para que se trabalhe em cima de planejamento. "No momento, vamos fazer sim o máximo de distanciamento social", afirmou.
Na entrevista, Mandetta não entrou na polêmica entre Bolsonaro e a Organização Mundial da Saúde (OMS). O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou nesta terça que os governos precisam garantir apoio financeiro aos trabalhadores informais para que possam cumprir as medidas de isolamento durante a pandemia de coronavírus, contrariando declaração de Bolsonaro.
A publicação de Tedros foi feita após Bolsonaro dizer nesta manhã a apoiadores que o diretor-geral da OMS teria se associado a ele e defendido que trabalhadores informais voltem a trabalhar, a despeito das medidas de restrição de movimentação impostas para conter a disseminação do coronavírus.
Mandetta também anunciou na entrevista que o ministério vai lançar um programa de disparo de ligações telefônicas para até 120 milhões de pessoas na tentativa de identificar e antecipar possíveis pacientes em situação de risco para o coronavírus.
O ministro afirmou ainda que a Secretaria de Ciência e Tecnologia da pasta informou que seu primeiro trabalho sobre o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com a Covid-19 deve ser publicado em até 48 horas, mostrando redução no tempo de internação dos pacientes.
Ele ressaltou que o estudo é um primeiro passo, e que não há qualquer evidência de que se pode usar como profilático, e muito menos para pessoas que não estão em estado grave.
Nesta terça-feira o Brasil registrou um salto de 1.138 casos no número de pacientes confirmados com coronavírus, o que representa de longe o maior aumento diário desde o início da contagem, chegando a um total de 5.717, com 201 mortes.