BRASÍLIA (Reuters) - O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, criticou nesta quinta-feira a eventual impressão de dinheiro como saída para a expansão de gastos pelo coronavírus, e disse que o Tesouro não tem nenhum problema de financiamento.
"Hoje a gente fez um leilão de manhã de 10 bilhões de reais. Se quiser pode vender mais? Pode. Mas também a gente não está desesperado para voltar ao mercado", disse.
"A gente está vendo como é que o mercado vai se estabilizar, qual será, por exemplo, o prêmio que o Tesouro terá que pagar e gradualmente a gente volta ao mercado", completou.
Em conversa virtual com a corretora Necton, Mansueto frisou que o Tesouro tem colchão de liquidez grande que permite com que passe alguns meses sem fazer leilão de título público.
Na véspera, o governo posicionou-se contra o projeto para auxílio a Estados e municípios aprovado pela Câmara dos Deputados, apontando em nota técnica assinada por Mansueto que ele pressiona o endividamento da União sem qualquer previsibilidade num momento em que o Tesouro já enfrenta dificuldades para colocar títulos longos no mercado.
Questionado sobre eventual estratégia de impressão de dinheiro para bancar a expansão de gastos, o secretário disse considerar esse passo "algo muito arriscado" pelo risco inflacionário.
Nesse sentido, ele defendeu que a forma mais transparente de financiar as despesas quando não há superávit primário --como é o caso brasileiro-- é via aumento da dívida pública.
"Não vamos confundir as coisas, não vamos tentar reinventar a roda e repetir os erros que esse país fez na década de 70 e 80 quando a gente imprimiu dinheiro pra financiar aumento de gastos", afirmou.
Mansueto voltou a destacar que é importante o país não criar gastos permanentes em meio à pandemia e que precisa voltar à agenda de reformas depois para engatar o crescimento econômico.
Diante das rusgas entre Executivo e Legislativo sobre novas medidas para o combate aos impactos do coronavírus, Mansueto fez um apelo pelo "bom debate político" em diversos momentos e ponderou que a viabilidade política de qualquer medida não está predefinida, mas se constrói.
"A gente precisa ter calma, sentar à mesa, criar consensos pra ver o que se consegue aprovar", disse.
(Por Marcela Ayres)