Por Gabriel Ponte
BRASÍLIA (Reuters) - O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou nesta sexta-feira que o risco, na conjuntura doméstica, de financiar a dívida por emissão de moeda é "muito alto", ao comparar a situação fiscal do Brasil a de outras economias.
"Essa possibilidade de financiar dívida, com emissão de moeda, ao meu ver, isso não funciona no caso brasileiro, e o risco é muito alto", afirmou a empresários em videoconferência promovida pelo LIDE Pernambuco.
Ele comparou o status do dólar norte-americano, como moeda de segurança, ante o real. "As pessoas, no Brasil, não olham para a moeda brasileira da mesma forma como olham para o dólar, moeda internacional", explicou.
"Em outros países, você chegou em um nível no qual, mesmo que os juros vão para 0%, as pessoas continuam acreditando na moeda. Não é o caso do Brasil. O Brasil ainda não tem juros a 0%, e ninguém sabe, ao certo, se as taxas de juros fossem para 0%, o que ia acontecer."
Ao ser questionado sobre a promulgação da Emenda Constitucional conhecida como "orçamento de guerra", que prevê, dentre outras atribuições, a ampliação de poderes do Banco Central, incluindo a compra de títulos públicos no mercado secundário, Mansueto disse não esperar que a autarquia terá papel "muito ativo" no uso dessa ferramenta.
"Isso foi aprovado, mas não é algo que o BC pense em usar fortemente. Isso é uma permissão para, eventualmente, o Banco Central poder usar alguma intervenção no mercado secundário. Mas, novamente, pelo que tenho conversado com Banco Central, não é algo que se vislumbra que o Banco Central seja muito ativo em mercado de títulos", relatou.
Mais cedo, em videoconferência promovida pelo UBS, o diretor de Política Econômica do BC, Fábio Kanczuk, afirmou que a autarquia não tem afrouxamento quantitativo --ou quantitative easing (QE)-- como política monetária na cabeça.
VENDA DE TÍTULOS
De acordo com Mansueto, a estratégia do Tesouro Nacional, no atual momento, consiste na venda de títulos de curto prazo. Ele destacou que não há, no momento, demanda significativa por papéis longos, até pela características de investidores desse título, fundos de pensão e estrangeiros, segmentos que, segundo o secretário, já haviam diminuído o volume de compras antes da crise.
"O prazo médio da dívida pública brasileira é um pouco acima de quatro anos, então, na verdade, o que a gente está fazendo não vai alterar muito, já que esse título, que é o carro-chefe de financiamento do Tesouro, que é um título que rende Selic, é um título de prazo de seis anos", ponderou.
Ainda de acordo com ele, o Tesouro realizou, na última quinta-feira, o maior leilão de títulos públicos no ano, levemente superior a 18 bilhões de reais.