Por Miguel Lo Bianco e Lucila Sigal
BUENOS AIRES (Reuters) - Enquanto a taxa de inflação de mais de 100% na Argentina reduz o poder aquisitivo e supera os salários, Jorge Pedro Armoa, de 67 anos, encontrou uma solução dolorosa: fazer malabarismos com três empregos como metalúrgico, técnico de futebol e vendedor de cremes medicinais, chinelos e mel.
Armoa, que mora em uma pequena casa nos arredores da capital Buenos Aires, acorda cedo todos os dias para sua semana de trabalho de sete dias para driblar a pobreza que afeta quase quatro em cada 10 pessoas no país.
"A situação é complexa. Os salários são muito baixos, as coisas são muito caras. Então às vezes não dá", disse Armoa, operário de uma fábrica de moldes de metal que é diretor técnico de um time de futebol local e financia seu próprio pequeno negócio.
Os argentinos estão lutando contra uma dolorosa crise econômica com inflação anual de 102,5% e expectativa de subir ainda mais, rígidos controles de capital distorcendo o valor do peso e reservas cambiais em queda aumentando temores sobre inadimplências futuras.
Estima-se que a pobreza, que havia diminuído devido ao apoio do Estado durante a pandemia de Covid-19, tenha subido para quase 40% no final do ano passado, em comparação a 36,5% no primeiro semestre de 2022, à medida que a inflação corroeu o poder de compra dos salários.
"Nossa projeção para a taxa de pobreza... é de cerca de 40%", disse Martín González Rozada, economista e professor de econometria da Universidad Di Tella, acrescentando que provavelmente foi ainda maior no início deste ano.
"Em termos de aumento da renda dos trabalhadores, essa renda aumentou menos que a inflação da cesta básica total", afirmou, destacando que cerca de metade das crianças do país viviam em famílias pobres.