SÃO PAULO (Reuters) - Os fabricantes de veículos do país com contratos de preços de aço com siderúrgicas vencendo em janeiro conseguiram neste mês uma redução de cerca de 10% nos valores cobrados pelas usinas, afirmou o presidente da associação de distribuidores de aços planos, Inda, Carlos Loureiro nesta terça-feira.
Loureiro afirmou ainda que "a maioria dos contratos" foi fechada com prazos menores em relação ao período tradicional de um ano comumente utilizado no setor.
"O desconto de 9% a 12% para as montadoras com contratos em janeiro ficou dentro do esperado. A novidade foi que a grande maioria deles deixou de ser anual e passou a ser semestral", disse o presidente do Inda. "Uma das usinas fechou só trimestral", acrescentou sem dizer nomes.
A CSN (BVMF:CSNA3) manifestou alguns meses atrás interesse em reduzir a periodicidade dos contratos de fornecimento de aço às montadoras de veículos. Procurada, a empresa não comentou o assunto.
Loureiro afirmou que vê pouco espaço para as usinas declararem aumentos de preços de aço para a distribuição em fevereiro diante de um quadro em que há sobra de oferta no Brasil, apesar de a situação de prêmios não favorecer importações. Além disso, acrescentou, os estoques dos distribuidores estão em nível baixo. O setor terminou dezembro 817 mil toneladas estocadas, praticamente estável sobre um ano antes e queda de 1,7% ante novembro.
Segundo o presidente do Inda, o aço nacional está 10% mais caro que a liga importada, diferença conhecida no setor como "prêmio", e este nível não é suficiente para compensar o risco de se acertar contratos de importação.
Em 2022, as importações de aço plano pelo Brasil caíram 17,2%, para 1,68 milhão de toneladas, segundo dados do Inda divulgados nesta terça-feira.
As vendas de aço pelos distribuidores em 2022 subiram 3,9%, para 3,73 milhões de toneladas. Em dezembro apenas, as vendas caíram 1,7% sobre um ano antes, para 257 mil toneladas, recuando 11,6% ante novembro, num desempenho melhor que os 20% de queda esperados pelo Inda. Para janeiro, a expectativa é de crescimento de 11% nas vendas, para 285 mil toneladas.
Para este ano, a entidade espera expansão de 2% a 3% nas vendas. "O mercado não está brilhando...devemos crescer ao redor de 2,5% este ano, o que é muito baixo", disse Loureiro.
Apesar disso, ele afirmou que vários setores da economia consumidores de aço - energia eólica e solar, saneamento, máquinas agrícolas e de construção - "estão performando bem".
Questionado sobre o anúncio do Ministério de Relações Exteriores na véspera, de que os Estados Unidos decidiram encerrar tarifa antidumping imposta em 1993 sobre chapas grossas de aço carbono produzidas no Brasil, Loureiro afirmou que o efeito sobre o setor siderúrgico será pequeno.
Isso porque o país ainda mantém medidas de proteção ao mercado interno impostas durante o governo de Donald Trump. "A 232 continua funcionando e pouca coisa mudou. Ela continua vigente e não acredito que possa acontecer grandes alterações nas exportações para os EUA", afirmou o presidente do Inda, referindo-se à medida adota por Trump sob a alegação de proteção à segurança nacional.
Já sobre as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Argentina, na véspera, sobre interesse do governo brasileiro na criação de uma moeda comum na América do Sul, Loureiro afirmou que primeiro os países precisam buscar estabilizar suas economias. Ele lembrou as décadas de esforços dos países da União Europeia para a formação do euro.
"Esse plano de moeda comum é um pouco sonho de uma noite de verão...Acho difícil...É absolutamente impossível enquanto não se tiver uma estabilidade maior na Argentina principalmente e nos outros países", disse Loureiro.
Atualmente, a Argentina importa pequenos volumes de aço do Brasil, em especial produtos galvanizados para a indústria automotiva local, afirmou.
(Por Alberto Alerigi Jr.)