Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, avaliou nesta segunda-feira que o Brasil não está em situação dramática de rolagem de dívida e que a inclinação da curva de juros é natural diante dos questionamentos sobre o futuro das contas públicas.
Em evento anual conjunto da Empiricus e da Vitreo, ele disse --em sua terceira fala pública do dia-- que a resposta a essas indagações é a realização de reformas, que provocará o achatamento da curva.
"Este governo atual está relativamente equacionado", disse Guedes. "Não espero ter nenhum problema de rolagem neste governo", acrescentou ele, após dizer que "não achamos que estamos em situação dramática".
Ele reconheceu que no primeiro quadrimestre de 2021 haverá o vencimento de cerca de 600 bilhões de reais em títulos da dívida, mas afirmou que 300 bilhões de reais para fazer frente ao compromisso "já estão automaticamente provisionados" --em referência a 200 bilhões de reais de transferências de resultados do Banco Central para o Tesouro e "100 bilhões e pouco" vindos com a desalavancagem de bancos públicos.
"Todo ano eles (bancos) estão mandando. Esse ano, inclusive, por causa da pandemia nós não pedimos, mas ano que vem vamos pedir", afirmou o ministro.
Guedes pontuou que o BC já fez a transferência de recursos, ao mesmo tempo em que falou que, dentro das medidas que podem ajudar na gestão da dívida, estão ainda a possibilidade de pagamento de dividendos de bancos públicos e o IPO da Caixa Seguridade, operação que segundo ele pode movimentar até 50 bilhões de reais.
No fim de agosto, o governo aprovou a transferência imediata ao Tesouro de 325 bilhões de reais do resultado cambial do BC do primeiro semestre, após um pedido de 445 bilhões de reais que mirava para dar tranquilidade à gestão de curto prazo da dívida pública.
Na decisão, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deixou a porta aberta para que mais recursos sejam repassados ao Tesouro, ainda neste ano, "caso haja necessidade".
Segundo uma fonte com conhecimento direto do assunto, dos 325 bilhões de reais já repassados pelo BC ao Tesouro, uma parte pagou dívida, restando pouco mais de 200 bilhões de reais para o ano que vem.
DÓLAR MAIS ALTO
Durante sua fala nesta tarde, Guedes também afirmou que a taxa de câmbio no Brasil já passou por 'overshooting', e que a economia está mais saudável num quadro de juros básicos mais baixos e patamar mais alto do dólar frente ao real.
Ele afirmou que no passado havia endividamento em bola de neve num quadro com Selic alta e câmbio sobrevalorizado, que ele avaliou como "combinação bastante perversa de dois preços críticos na economia".
"Economia está muito mais saudável, em vez de com juros a 10%, 12% e o câmbio a 1,80, 2,00, 2,20, 2,80 (reais), economia muito mais saudável se ela estiver com juro de 2% e câmbio de 5,00. É muito melhor. Acredito, inclusive, que o câmbio brasileiro já fez o overshooting", disse.
"Quando você troca o patamar de equilíbrio, ele normalmente dispara, passa de um nível de equilíbrio e depois aterrissa num nível mais baixo. Então acho que nós já fizemos o overshooting se prosseguirmos com as reformas", acrescentou.
O dólar subiu a 0,90% nesta sessão, a 5,4353 reais na venda. No ano, a alta é de 35,45%, tendo atingido a máxima de 5,9012 reais em 13 de maio.
(Por Marcela Ayres, com reportagem adicional de José de Castro)