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Não existe racismo no Brasil, diz Mourão ao lamentar morte de homem negro no RS

Publicado 20.11.2020, 15:27
© Reuters. Vice-presidente Hamilton Mourão durante cerimônia em Brasília
CRFB3
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BRASÍLIA (Reuters) - O vice-presidente Hamilton Mourão classificou como lamentável a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro espancado até a morte em um supermercado Carrefour (SA:CRFB3), em Porto Alegre, mas afirmou que seria um caso de "segurança totalmente despreparada", e não de racismo.

"Para mim no Brasil não existe racismo, isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil. Isso não existe aqui", disse Mourão ao ser perguntado se o caso de Freitas demonstraria um problema de racismo no país.

Diante da insistência dos jornalistas, o vice-presidente voltou a afirmar que dizia "com toda a tranquilidade" que não existe racismo no Brasil.

"Eu digo para vocês o seguinte, porque eu morei nos Estados Unidos. Racismo tem lá. Eu morei dois anos nos Estados Unidos, na minha escola que eu morei lá, o pessoal de cor ele andava separado, que eu nunca tinha visto isso aqui no Brasil. Saí do Brasil, fui morar lá, era adolescente e fiquei impressionado com isso aí. Isso no final da década de 1960", afirmou.

Mourão admitiu que a alta desigualdade social existente no país afeta mais os negros, mas não relacionou a falta de acesso a bens e serviços ao racismo, apenas à pobreza. Questionado sobre a violência policial atingir mais negros, Mourão afirmou que o caso de Porto Alegre não é de violência policial, mas de segurança.

"O que acontece: naturalmente aquela pessoa que está em desvantagem social, ou que vive em uma área que é mais difícil, vamos colocar, uma área de favela, onde está exposto a questão do crime organizado, de tráfico, essa coisa toda, então, grande parte das pessoas que lá vivem, infelizmente, são pessoas de cor. Isso é uma realidade", afirmou.

Freitas foi morto na noite de quinta-feira em frente a um supermercado Carrefour por um segurança da loja e um policial militar provisório que estava no local. O segurança foi chamado por uma caixa depois de uma discussão. Freitas foi morto por espancamento depois de ter sido imobilizado pelos dois homens.

Ambos foram presos em flagrante e indiciados por homicídio triplamente qualificado.

REAÇÃO

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, fez uma homenagem a Freitas nesta sexta-feira, em evento de assinatura de convênio com a Faculdade Zumbi dos Palmares.

"Gostaria preliminarmente, antes de iniciarmos este evento, pedir um minuto de silêncio em homenagem a João Alberto Silveira Freitas, negro, 40 anos que foi morto na noite de ontem por seguranças de um supermercado em Porto Alegre", disse.

"Independentemente de versões, o que deve nos preocupar é a violência exacerbada. Toda violência é desmedida e deve ser banida da sociedade. Mas esse episódio é um triste episódio, exatamente no momento em que nós comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra", emendou.

O presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), também usou as redes sociais para comentar a morte de Freitas.

"No Dia da Consciência Negra, o assassinato brutal de João Alberto Freitas, espancado até a morte por seguranças de um supermercado, em Porto Alegre, estarrece e escancara a necessidade de lutar contra o terrível racismo estrutural que corrói nossa sociedade", disse.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, foi outra integrante do governo a se manifestar sobre o assassinato pelas redes sociais. Contudo, não fez qualquer referência ao fato de o assassinato ter sido perpetrado contra um homem negro.

© Reuters. Vice-presidente Hamilton Mourão durante cerimônia em Brasília

"A vida de mais um brasileiro foi brutalmente ceifada no estacionamento de um supermercado, no Rio Grande do Sul. As imagens são chocantes e nos causaram indignação e revolta", disse ela, em uma das postagens.

(Reportagem de Lisandra Paraguassu, com reportagem adicional de Ricardo Brito)

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