Por Elizabeth Piper e Kate Holton
LONDRES (Reuters) - Depois de décadas financiando os conservadores do governo britânico, o empresário Gareth Quarry mudou de lado e começou a doar para o Partido Trabalhista, de oposição, acreditando que ele oferece mais segurança e estabilidade.
O empresário de 63 anos abandonou os conservadores depois do que chamou de "uma litania de contravenções" que destruiu a reputação centenária de estabilidade financeira do Reino Unido.
Quarry faz parte de um número crescente de investidores, executivos de empresas e banqueiros que se voltam para o Partido Trabalhista, que tem uma forte liderança nas pesquisas de opinião sobre os conservadores do primeiro-ministro Rishi Sunak antes das eleições nacionais previstas para 2024.
"Muitos de nós estão encontrando nosso caminho para os trabalhistas", disse à Reuters Quarry, que ganhou milhões com duas empresas de recrutamento legal e agora dirige uma empresa que fabrica suplementos de saúde.
Sua opinião de que os trabalhistas assumiram o manto dos conservadores como o "partido dos negócios" foi fortalecida por reuniões com parlamentares trabalhistas e pelas principais políticas do líder Keir Starmer.
"Percebi que nos trabalhistas temos um partido de centro-esquerda que visa tornar a sociedade mais justa e é inflexivelmente a favor de trabalhar com os negócios --não apenas da boca para fora, mas realmente trabalhar com os negócios", disse Quarry, presidente da LVDY Saúde e Bem-Estar.
Durante anos, proprietários de empresas e executivos de empresas ficaram do lado dos conservadores, acreditando que o partido de Margaret Thatcher tinha mais chances de criar as condições de trabalho flexíveis e a confiança do consumidor necessárias para o crescimento da economia.
Mas para muitos essa relação foi abalada pelo apoio do partido ao Brexit e sua decisão de tirar o Reino Unido do mercado único da Europa, o maior bloco comercial do mundo.
Conscientes de que o Partido Trabalhista teve seu maior sucesso eleitoral nos tempos modernos sob a liderança pró-negócios de Tony Blair, autoridades do partido começaram a cortejar empresários.
Executivos de bancos, grupos de investimento e empresas de capital de risco disseram à Reuters que se reuniram com importantes figuras trabalhistas lideradas por Rachel Reeves, chefe de política financeira do partido e ex-economista do Banco da Inglaterra, o banco central britânico.
"Eles estão fazendo muitas perguntas", disse um grande investidor internacional no Reino Unido.
Várias fontes do setor financeiro disseram que o Partido Trabalhista, que também cortejou líderes empresariais em sua cúpula anual e em um recente encontro em Londres, queria usar melhor o setor para tirar o país de anos de crescimento econômico estagnado.
A maior atenção ajudou a aumentar as doações para um partido que há muito é apoiado por fundos de sindicatos.
Nos três meses até setembro, os trabalhistas receberam 4,8 milhões de libras, incluindo contribuições dos sindicatos, contra pouco mais de 3 milhões de libras dos conservadores, de acordo com a comissão eleitoral. Isso se compara com 5,4 milhões de libras para os conservadores e 3,8 milhões de libras para os trabalhistas no trimestre anterior.
Alguns parlamentares conservadores descartam os dados como pouco mais que uma aberração, desencadeada por uma crise de liderança neste verão, na qual o partido derrubou primeiro Boris Johnson e depois Liz Truss em questão de semanas.
(Reportagem de Elizabeth Piper e Kate Holton, reportagem adicional de Sinead Cruise)