Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, diz prever recuperação no terceiro trimestre, além de um desempenho melhor do que o previsto pela maior parte dos analistas no quarto trimestre - ainda que possa voltar a apresentar queda nos três últimos meses do ano -, e no ano que vem. De acordo com as falas do presidente do Banco Central em uma conferência virtual organizada pela Bloomberg nesta quarta-feira (2), a expectativa do banco é de PIB de -5% em 2020 e de pouco mais de 4% no ano que vem, ambos os números acima do consenso do mercado.
Campos Neto ressaltou que a economia vem crescendo em forma de "V", mas deve apresentar desaceleração, e fica dependente de fatores externos e internos, além de uma eventual segunda onda de Covid-19 ou de uma demora na produção de uma vacina - o que, na perspectiva de Campos Neto, representa o maior risco à recuperação econômica do país. Além disso, o presidente do banco cita diferenças no comportamento da população, como o aumento nas reservas de emergência.
Em relação ao crescimento econômico, Campos Neto ressaltou que um dos pontos mais importantes é que ele seja promovido pelo setor privado e não público, o que, na sua avaliação, vinha acontecendo antes do surto de Covid-19. Para ele, isso viria junto de um aumento na eficiência, uma abertura econômica, privatizações e a consequente diminuição do tamanho do estado.
Sobre a flexibilização quantitativa, política adotada pelo Fed dos EUA para promover liquidez nos mercados com a compra de títulos da dívida pública e outros ativos financeiros, Campos Neto disse que não há perspectiva para que seja adotada no Brasil, embora tenha autorização do Congresso para utilizá-la. O dirigente disse que o BC deve prosseguir com a utilização dos instrumentos atuais de política monetária. Disse ainda que vê pouco ou nenhum espaço para novos cortes da taxa Selic, que deve permanecer na faixa de 2%.
Mesmo com a crise de Covid-19, os planos do Banco Central não devem mudar. “As pessoas entendem o nosso programa e o que temos de fazer, com as reformas”, aponta. Assim, o banqueiro reforça que as reformas seguem sendo prioridade e a agenda não sofreu alterações.
Câmbio
Quando questionado sobre a desvalorização do Real, Campos Neto relatou que em alguns momentos, quando a cotação do dólar estava perto de R$ 6, o Banco central estava pronto para intervir pois acreditava que essa cotação não estava em sincronia com os fundamentos. No entanto, uma rápida estabilização na faixa de R$ 5 fez com que o banco não agisse - o que não significa que não esteja pronto para agir novamente no futuro, com venda de reservas, se as condições se repetirem.