BRASÍLIA (Reuters) - A economia do Brasil recuará 7,4% este ano, à medida que a crise do coronavírus massacra a demanda, a produção e os serviços, disseram economistas do banco Société Générale nesta quarta-feira, acrescentando que a dívida do país atingirá 100% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022.
A piora na estimativa veio depois de dados na véspera mostrarem um colapso na produção industrial de março. E, mesmo com a acentuada deterioração do prognóstico --uma vez que antes o banco estimava uma já drástica contração de 2%--, a maior economia da América Latina pode contrair ainda mais.
"Um declínio (mensal) de 9,1% na produção industrial em março --que teve apenas metade de seu período impactado pelo Covid-19-- remove a maior parte das duvidas sobre o ritmo recente de crescimento econômico", escreveu o economista sênior para a América Latina Dev Ashish, referindo-se à doença causada pelo novo coronavírus.
"O risco nas nossas estimativas pesa para o lado negativo, dada a persistente incerteza sobre a situação de pandemia... (e) a economia provavelmente crescerá a uma taxa bem abaixo do seu já muito reduzido potencial por vários anos", acrescentou.
Ashish espera que o PIB recue 10,1% no segundo trimestre e tenha uma recuperação de 12% no terceiro trimestre, supondo que a flexibilização de quarentenas comece em maio ou junho e que uma incomumente forte demanda --típica depois de momentos de forte queda-- seja vista no segundo semestre.
O crescimento deve voltar a 4,5% no próximo ano, disse ele.
Uma contração anual do PIB de 7,4% seria a maior em pelo menos meio século, superando facilmente a queda de 4,25% de 1981 e a de 4,35% em 1990, segundo dados do Banco Central.
A profunda recessão afetará a arrecadação e aumentará as despesas do governo para combater a crise, que ampliará a dívida bruta para 96,5% do PIB este ano e para 100% até 2022, disse ele. Atualmente, a dívida bruta é de cerca de 78% do PIB.
Na terça-feira, a Fitch Ratings alterou o rating de crédito do país de "estável" para "negativa", citando uma rápida deterioração das finanças públicas como uma das principais razões para a mudança.
Dada a escala da iminente crise econômica, Ashish espera que o Banco Central corte a taxa básica de juros (Selic) para 2,50% neste ano e a mantenha nesse patamar até meados de 2022.
A Selic está atualmente em 3,75%, mínima recorde.
(Por Jamie McGeever)