Por Sergio Goncalves e Andrei Khalip
LISBOA (Reuters) - O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, emitiu um novo alerta grave ao primeiro-ministro nesta quinta-feira, depois que o rompimento entre os dois colocou o país à beira de uma crise política total, mas se absteve de usar seu poder para dissolver o parlamento.
"Considerando tudo, continuarei a preferir a garantia da estabilidade institucional" enquanto os portugueses lutam contra uma inflação e taxas de juros elevadas, disse o presidente conservador à nação num discurso televisionado.
A perspectiva de uma eleição antecipada produzir um parlamento dividido e um governo instável provavelmente impediu o presidente de usar medidas mais drásticas, dizem analistas.
Mas ele disse que o governo de maioria socialista tem trabalho a fazer para preservar sua credibilidade e que será mais assertivo em seu relacionamento com o governo.
Os partidos da oposição apelaram esta quarta-feira ao presidente para usar o seu poder para dissolver o parlamento depois de o primeiro-ministro António Costa ter rejeitado a renúncia do ministro das Infraestruturas, João Galamba, em um escândalo que se aprofunda em torno da companhia aérea estatal TAP, desconsiderando Rebelo de Sousa.
“O governo não assumiu a responsabilidade como deveria, em substituir o ministro das Infraestruturas”, disse Rebelo de Sousa.
"A responsabilidade política e administrativa é essencial para que os portugueses acreditem em quem os governa... O que aconteceu terá outros efeitos no futuro, terei de estar mais atento à questão da responsabilidade política e administrativa" do governo, afirmou.
Sousa colaborou com o primeiro-ministro desde que foi eleito presidente pela primeira vez, em 2016, poucos meses depois que Costa assumiu o cargo.
No entanto, desde que o terceiro mandato consecutivo de Costa começou, em janeiro de 2022, Rebelo de Sousa tem mostrado crescente desconforto, criticando a falta de novos rostos em seu governo, que disse parecer "desgastado e cansado", e suas divergências se aprofundaram neste ano.
Com o crescimento já desacelerando em toda a Europa, uma crise governamental também complicaria a distribuição de verbas vitais da União Europeia para a recuperação da pandemia em Portugal.
Os socialistas do partido de Costa conquistaram a maioria parlamentar absoluta em janeiro de 2022, mas seu terceiro governo consecutivo foi atormentado por problemas.
Mais de dez ministros e secretários de Estado deixaram os seus cargos no ano passado, pelo menos dois deles ligados a um escândalo na companhia aérea TAP, desencadeado por uma indenização irregular a um membro do conselho que se tornou uma bola de neve para revelar o que críticos apontam como fracassos na comunicação governamental e na tomada de decisões.
(Reportagem de Sergio Gonçalves e Andrei Khalip em Lisboa)