Setor agropecuário e governo brasileiros estão em busca de unificar os discursos a serem apresentados durante a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27), que ocorrerá entre os dias 6 e 18 de novembro no Egito. Durante o evento, os países participantes apresentarão ações e posicionamentos com relação ao Acordo de Paris e seu objetivo de frear ameaças decorrentes das mudanças climáticas.
Em encontro ocorrido hoje (18) na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), três ministros receberam da entidade um documento detalhando posicionamento e temas considerados relevantes pelo setor agropecuário brasileiro a serem debatidos durante a conferência.
Segundo a CNA, a COP-27 ocorre em um momento de “particular relevância” para a implementação do Acordo de Paris, em meio aos impactos gerados pela pandemia e pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia – situações que afetaram, em especial, as seguranças alimentar e energética do continente europeu.
COP da implementação
Na avaliação do coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias, a conferência tem como perspectiva ser reconhecida como a COP da implementação de medidas e metas apresentadas nas edições anteriores.
Segundo Ananias, “o futuro da agropecuária brasileira começou há 10 anos, com o exitoso programa de agricultura de baixa emissão de carbono”. “Ou há pelo menos 50 anos, com o cumprimento de um dos códigos florestais mais rigorosos do mundo”, acrescentou, ao afirmar que o agro brasileiro “não está prometendo, mas já faz e cumpre” com as metas apresentadas.
“O Brasil apostou em metas ambiciosas que têm, na agropecuária, a base fundamental para seu alcance. Para alcançar os objetivos o país precisa agora detalhar [durante a COP] essa estratégia de atingimento de metas propostas, imputando ações individualizadas e setoriais nos sistemas produtivos. As estratégias precisam ser detalhadas na COP”, disse.
O presidente da CNA, João Martins, disse que o setor agropecuário “investiu em agricultura menos emissoras de gás de efeito estufa e, também, na [recomposição e na manutenção de] vegetação nativa e biodiversidade”, ao cumprir com as medidas previstas no Código Florestal.
De acordo com Martins, “os produtores brasileiros têm compromisso com a sustentabilidade” e, em sua grande maioria, não recuou das obrigações. “Ampliamos nossa produção de forma sustentável, porque nosso país é provedor de soluções ambientais e climáticas.”
MAPA
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, disse que a preocupação da agricultura brasileira “ficou evidente em 2012, quando demos um grande passo e criamos o Código Florestal”, disse. O problema, acrescentou ele, é que, desde então, o setor agropecuário “começou a perder a narrativa”, em meio a críticas vindas, em especial, pela mídia brasileira, com relação a supostos efeitos danosos deste setor ao meio ambiente.
“Não conseguimos mostrar nossa narrativa à população urbana de nosso país nem à população internacional. Isso nos tem causado muitos prejuízos”, acrescentou, ao destacar a importância de apresentar, durante a COP-27, o ponto de vista de que “a tecnologia que implementamos no Brasil é o fio de ligação entre sustentabilidade e produção”.
O ministro acrescentou que problemas e tragédias como pandemia e guerras “criam oportunidades”. “A pandemia e o conflito da Ucrânia com a Rússia mostraram ao mundo algumas situações que o Brasil já vinha defendendo”, relacionadas à necessidade de “produzir com sustentabilidade para alimentarmos o mundo”, disse.
“Sustentabilidade não é só questão ambiental. É econômica e social. Por isso, precisamos sempre fazer nosso dever de casa. Já caminhamos muito. Se consertarmos alguns equívocos, nossa narrativa será vencedora”, complementou.
MMA
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que participou do evento, disse que o governo federal “entende que tem de fazer política junto com o agro”. “Não é somente multar, reduzir e culpar o agro. Pelo contrário: precisamos incentivar uma nova cultura verde como a de baixo carbono, que é um belo exemplo para o mundo”, disse, ao afirmar que “o Brasil tem o agro convencional mais regenerativo do mundo”.
“Isso significa que toda vez que batemos recorde de produção, nós melhoramos o solo, tirando carbono da atmosfera e colocando ele no solo. Isso é uma ferramenta para combater o grande desafio de mudança do clima e para buscar economia neutra de emissões até 2050”, argumentou ao apontar a agropecuária como “parte da solução de uma nova economia verde.”
“Vamos mostrar isso na conferência do clima: um agro sustentável e, também, o Brasil das energias verdes que passam pela agricultura. Batemos recorde de instalação de eólica de 21 GW, temos solar 14 GW e biomassa. Essas três fontes que passam pelo agro têm potencial de instalação de 100 GW nos próximos anos. Isso tudo pode se transformar em hidrogênio e amônia verdes para exportação”, acrescentou.
MRE
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disse acreditar que a economia brasileira, em especial a agropecuária, tem condições de ampliar sua competitividade “em um contexto de regras ambientais mais rígidas”. “Tudo que a gente ouve é que o empresário e o agro querem se adaptar ao que tem de mais elevado padrão ambiental”, disse.
“O Brasil é um ator incontornável em todos os temas ambientais, com território, biodiversidade, matriz energética limpa e uma politica ambiental consistente. Essas são nossas credenciais no debate internacional. Há que se defender essas credenciais e estabelecer metas de grande envergadura [durante a COP]”, discursou.
França disse ter conversado com chanceleres de outros países, e que há neles uma expectativa “muito grande sobre o papel que o Brasil pode desempenhar na segurança alimentar e energética, em especial do continente europeu”.