LONDRES (Reuters) - O Reino Unido estabeleceu neste domingo um sarrafo alto para futuras negociações com a União Europeia, dizendo que vai estabelecer sua própria agenda em vez de se submeter às regras do bloco.
Depois de deixar oficialmente a União Europeia na sexta-feira, o Reino Unido deve negociar suas relações comerciais futuras com o bloco, que terão efeito quando o período de transição acabar, no fim deste ano.
O governo do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi rápido em enviar a Bruxelas uma mensagem antes do início das negociações comerciais, em março. O Brexit, para ele, significa que a soberania vem antes da economia.
A União Europeia tem dito aos britânicos que o nível de acesso do país ao seu lucrativo mercado único dependerá de quanto Londres está disposta a aderir às regras do bloco quanto a padrões ambientais, regulações trabalhistas e ajuda estatal. Mas, apesar dos apelos de muitos empresários para que o governo assegure o livre comércio, ministros têm dito a empresas que elas devem se ajustar a um novo futuro em que a nação não mais acatará as regras da UE.
Fontes próximas a Johnson dizem que ele considerou a larga vitória nas eleições do ano passado como um aval para a sua política de autonomia britânica colocada acima dos interesses comerciais. E ele deve realçar isso em um discurso na segunda-feira.
“Estamos tomando de volta o controle sobre nossas leis, para que não tenhamos de estar alinhados à UE, alinhamento legislativo com as regras deles”, disse o ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, à Sky News. “Mas queremos cooperar e esperamos que a União Europeia siga com seu compromisso para um acordo de livre comércio ao estilo canadense.”
O objetivo do premiê é chegar a um acordo de isenção de tarifas para bens de consumo, ao estilo do acordo que o bloco possui com o Canadá.
No sábado, uma fonte do governo disse que se a UE não oferecer um acordo como o do Canadá, Londres tentará um pacto menos amplo, ao estilo do que possui com a Austrália. “Só há dois possíveis resultados da negociação: um acordo de livre comércio como o do Canadá ou um outro menos amplo como o da Austrália. Estamos contentes em negociar os dois”, disse a fonte.
A UE afirma que não aceitará um acordo com um poderoso vizinho sem garantias de competição justa. Alguns líderes europeus temem que Johnson tente prejudicar os negócios do bloco ao afrouxar padrões regulatórios, algo que ele prometeu não fazer.
“Se o Reino Unido quiser estabelecer ao lado da União Europeia uma espécie de Cingapura do Tâmisa, seremos contra”, disse o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian.
(Reportagem adicional de Maya Nikolaeva em Paris)