SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central elevou a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 3,50%, nesta quarta-feira, confirmando expectativas do mercado de uma segunda elevação da Selic após em março promover o primeiro aperto monetário em quase seis anos.
Veja comentários de profissionais do mercado:
ÁLVARO FRASSON, ECONOMISTA, BTG PACTUAL (SA:BPAC11) DIGITAL
"A não retirada da referência à normalização parcial da política monetária pode parecer 'dovish', mas eu já não compartilhava da expectativa de exclusão desse trecho, e o BC enfatiza que não há compromisso com essa posição. De qualquer forma, para compensar a possibilidade dessa leitura, o Copom já colocou 0,75 ponto percentual na próxima reunião. Acho que começam a ruir cenários de Selic terminal na casa de 6%, 7%, e eles devem convergir para a nossa projeção de 5,5%. Acredito que amanhã não deverá haver muita volatilidade nos mercados."
SÉRGIO ZANINI, SÓCIO-GESTOR, GALAPAGOS CAPITAL
"A gente de certa forma esperava que fosse dada alguma sinalização de que o passo de ajuste poderia seguir na mesma magnitude. O que nos surpreendeu foi a neutralização dessa frase sobre a normalização parcial. Para nós, na prática o Banco Central matou essa sinalização de política monetária e deixou o ciclo monetário aberto, demonstrando compromisso ainda maior com a meta de inflação para 2022. Foi uma decisão, um comunicado mais 'hawkish' do que a gente esperava."
CARLOS PEDROSO, ECONOMISTA-CHEFE, MUFG BRASIL
"O comunicado foi levemente mais 'hawkish'. O Copom manteve todas as condições do cenário anterior, mas o vejo como um pouco mais 'hawkish' quando deixa mais claro que a avaliação de uma normalização parcial está condicionada à evolução do mercado, do balanço de riscos, da pandemia... Acho que agora ele foi mais enfático. Acredito que as condições econômicas do segundo semestre vão fazer o BC prosseguir com a alta de juros, mas a um ritmo mais lento, o que permitiria que em junho de 2022 chegássemos aos mesmos 6,50% previstos num cenário em que o BC pausa a normalização em algum momento neste ano. Nos mercados, acho que a curva curta de juros já está bem precificada e o câmbio, consumado o fato, pode devolver um pouco os ganhos de hoje --mas ainda mantemos visão de dólar abaixo de 5,50 reais."
ALEX AGOSTINI, ECONOMISTA-CHEFE, AUSTIN RATING
"O que me chamou atenção no comunicado foi o BC ver um cenário internacional que está se tornando mais desafiador, enquanto a economia doméstica, do ponto de vista dele, está se recuperando acima do esperado. Então acho que, apesar de manter o trecho de que vai continuar com a dose de 0,75 p.p., que é compatível com o cenário, o Copom já começa a construir um cenário de uma alta acima de 0,75 p.p., que começa a ficar factível. Hoje é muito mais provável que haja uma aceleração do ritmo de alta do que uma manutenção desse ritmo em 0,75 p.p."
ANDRÉ MULLER, ECONOMISTA-CHEFE, AZ QUEST
"O comunicado veio em linha com o esperado e na nossa visão deixou claras as sinalizações dadas pelos diretores do BC desde a última reunião. O Copom segue acreditando na normalização parcial --ou seja, com Selic terminal abaixo de 6,5%--, e o argumento de que uma normalização total poderia colocar a inflação de 2022 abaixo da meta segue verdadeiro. Com o comunicado de hoje, fica explícito o compromisso do BC com a meta de inflação, e não com um cenário de normalização parcial. Não vejo o texto como 'dovish', já que o BC inclusive apontou nova alta de 0,75 ponto percentual na próxima reunião. Acredito que vamos manter os movimentos recentes dos mercados, com câmbio mais apreciado e descompressão do juro longo, dado o compromisso mais forte do Copom com a meta de inflação."
ALEXANDRE ESPIRITO SANTO, ECONOMISTA-CHEFE, ÓRAMA
"A decisão do Copom em elevar a taxa Selic em 0,75 p.p., para 3,50% ao ano, no nosso ponto de vista foi adequada. O BC mostra estar comprometido com a meta de inflação, o que é muito positivo, apesar de apontar dúvidas sobre o cenário prospectivo de recuperação da atividade. Em seu comunicado, o Copom antecipou, assim como fizera na reunião anterior, que deve promover um outro aumento da mesma magnitude no próximo encontro, por continuar preocupado com a situação fiscal e com a segunda onda da pandemia indo além do inicialmente previsto. Em nossa visão, o Copom está agindo com grande diligência e antecipando o processo de normalização para adequar o balanço de riscos."
(Por José de Castro e Gabriel Ponte)