Por Lisandra Paraguassu e Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de uma primeira semana com alguns ruídos de informação em seu ministério, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende usar sua primeira reunião ministerial, na sexta-feira, para dar um recado claro: anúncios e decisões sobre programas e políticas passam primeiro pelo presidente.
Com 37 ministros e diferentes graus de relação com Lula, os primeiros dias úteis do governo levaram a decisões e recuos, ministros anunciando propostas e sendo desmentidos.
A decisão de acabar com a desoneração dos combustíveis, e o recuo posterior, que atingiu diretamente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi o ruído mais grave nesses primeiros dias. Causado pelo próprio presidente, que foi convencido da necessidade de acabar com subsídios mas depois, preocupado com o impacto nos preços, voltou atrás, levantou dúvidas no mercado sobre a capacidade de Haddad convencer Lula sobre medidas duras que precisam ser tomadas.
Na terça-feira, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, em sua posse, defendeu que a última reforma do setor aprovada em 2019, fosse revista. Durante toda a campanha Lula nunca tinha mencionado o assunto.
Por ordem do próprio presidente, os chamados ministros palacianos, Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) foram a público negar a proposta de Lupi.
"Sexta-feira o presidente Lula já marcou a primeira reunião ministerial, para inclusive organizar e reafirmar. E ele acabou de me dizer, eu estava em reunião com ele, que qualquer proposta só será encaminhada, é evidente, depois da aprovação do presidente da República. Não há nenhuma proposta a ser analisada, pensada, neste momento para a revisão de reformas, seja a previdenciária, ou outra. Neste momento, não existe nada sendo elaborado", disse Costa depois da fala de Lupi.
Ministros ouvidos pela Reuters confirmam que a intenção de Lula é dar um freio de arrumação nos desencontros dos primeiros dias, mas ressaltam que situações como essas são normais em início de governo --especialmente numa equipe heterogênea e formada por ministros com diferentes visões.
"Pessoal está entusiasmado, quer falar, quer apresentar suas ideias, é normal. Mas por isso que precisa o presidente dar as diretrizes como vai fazer na reunião", disse um ministro que pouco falou nesses primeiros dias.
As rusgas chegaram até mesmo aos líderes do governo. Depois do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder no Congresso, cobrar que o União Brasil, por ter três ministérios, teria que entregar "no mínimo 60% dos votos" no Senado e na Câmara, o líder na Câmara, José Guimarães, disse em entrevista ao jornal O Globo que era preciso "articular muito e falar menos".
Os líderes também estarão na reunião ministerial.
O encontro, o primeiro em que os 37 irão sentar juntos para ouvir o presidente, também foi chamado para que Lula peça aos ministros propostas que o governo possa implementar rapidamente e um cronograma para os primeiros 100 dias.
"Vamos conversar um pouco sobre as medidas que cada ministério está analisando para os 100 dias, a partir dos relatórios da transição", disse o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ressaltando que Lula quer também um cronograma para as obras paradas.