Por Roberto Samora
(Reuters) - A produção brasileira de soja em 2021/22 deverá totalizar 132,33 milhões de toneladas, o que representa um corte de 8,55% ou mais de 10 milhões de toneladas na estimativa realizada antes dos problemas da seca na região Sul e em Mato Grosso do Sul, apontou a consultoria Safras & Mercado em relatório nesta sexta-feira.
A consultoria, que projetava anteriormente a produção do Brasil em 144,7 milhões de toneladas, é mais uma das casas de análises que cortaram a estimativa da safra brasileira em mais de 10 milhões de toneladas, em revisões divulgadas desde o início de janeiro.
Ao menos sete consultorias fizeram cortes de dois dígitos ou bem próximos de 10 milhões de toneladas, incluindo StoneX, AgRural, Agroconsult, AgResource, Cogo e Pátria Agronegócios.
Entre essas, a Cogo Inteligência em Agronegócio divulgou nesta semana um dos cortes mais drásticos, com uma redução na previsão em quase 15 milhões de toneladas, para 131 milhões de toneladas.
Com a colheita de soja começando no Brasil, analistas consideram que dificilmente os números deverão mudar para melhor.
Se chuvas se regularizarem muito no Rio Grande do Sul, que planta mais tarde, algumas perdas poderiam ser amenizadas, mas a maior parte do prejuízo contabilizado já pode ser dado como certo.
"É uma incógnita isso, como tem um plantio mais tardio no Rio Grande do Sul... se as chuvas voltarem, mas tem que voltar com regularidade, o que aparentemente não vai acontecer em fevereiro... supondo que elas voltem nas próximas quatro a seis semanas, pode amenizar um pouco as perdas. Mas a maior parte (das perdas) já é irreversível", disse o consultor Luiz Fernando Roque.
O analista Carlos Cogo concordou que seria possível amenizar algumas perdas, mas as chuvas teriam de vir.
Roque, da Safras, mencionou que produtores ainda poderiam plantar ou replantar soja até o final do mês no Rio Grande do Sul, caso o clima melhore, em uma área equivalente a 2% a 5% do Estado, o que poderia elevar o volume da safra.
Mas lembrou que o setor está cauteloso com esse trabalho de finalizar o plantio ou replantar devido aos custos e riscos, em meio ao fenômeno climático La Niña, que tem causado estiagem ao Sul do país.
Com a nova estimativa, a Safras aponta uma queda de 4,2% em relação à colheita da temporada anterior, que foi recorde.
Em novembro, quando foi divulgado o relatório anterior, a projeção da Safras era de 144,7 milhões de toneladas.
"Os maiores problemas se encontram no Estado do Paraná, onde pelo menos 30% do potencial produtivo está sendo perdido devido à estiagem. Devido ao ciclo de produção do Estado e com a colheita já começando, já podemos considerar que a maior parte das perdas é irreversível", acrescentou Roque.
A redução na safra deste ano devido à seca só não é maior porque o Brasil ampliou a área plantada em 4,1%, para 40,8 milhões de hectares, segundo a consultoria.
O levantamento aponta que a produtividade média deverá passar de 3.542 quilos por hectare para 3.260 quilos.
Em Mato Grosso do Sul, a falta de umidade também atingiu algumas regiões, mas não se pode falar em perdas tão extensas, por enquanto.
Nos demais Estados do Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste, apesar do registro de alguns problemas por excesso de umidade, a maioria dos potenciais produtivos estão sendo mantidos. "Apenas a colheita poderá esclarecer se houve problemas mais importantes de produção e/ou qualidade."
MILHO
A Safras ainda fez um novo corte na estimativa de safra de milho do Brasil, para 115,64 milhões de toneladas, ante 116,085 milhões de toneladas previstas em dezembro.
O ajuste em relação aos números divulgados no mês passado leva em conta os problemas de estiagem registrados nos Estados do Sul do Brasil, segundo o analista da Safras Paulo Molinari.
Ele projeta um forte crescimento na segunda safra de cereal, para 82,05 milhões de toneladas, após perdas na temporada anterior por seca e geadas.
(Por Roberto Samora)