BRASÍLIA (Reuters) -Na estreia do que se tornará uma live semanal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, nesta terça-feira, mais acenos ao agronegócio, com anúncio do Plano Safra para breve e a promessa de uma reforma agrária "pacífica e tranquila".
"Vamos anunciar o Plano Safra agora tanto para a agricultura familiar quanto para o agronegócio, e eles vão perceber que da parte do governo não há nenhuma objeção a eles (agronegócio). O que queremos é que todos produzam, cresçam e que o Brasil cresça junto", disse.
Ao ser questionado pelo apresentador sobre a resistência do agronegócio a seu governo, Lula afirmou que nunca teve problemas com o setor e que eles também sabem que economicamente o governo sempre manteve o apoio.
"Eles sabem que do ponto de vista econômico, do financiamento, eles não têm problema conosco. O problema pode ser ideológico, e aí paciência. A gente vai estar em campos opostos", afirmou.
Há cerca de um mês, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi desconvidado a participar da abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), uma das maiores feiras do setor, porque o ex-presidente Jair Bolsonaro iria comparecer ao local no mesmo dia. A direção do evento voltou atrás depois, mas Fávaro manteve a decisão de não ir e o Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) retirou o patrocínio da feira, o que evidenciou a relação ainda difícil entre o governo e o setor.
Na semana passada, no entanto, Lula participou do Bahia Farm Show, em Luis Eduardo Magalhães (BA), onde anunciou uma linha de crédito do BNDES para o setor.
"Não há incompatibilidade entre o pequeno e médio produtor e o grande produtor. O Brasil precisa dos dois, os dois são complementares. Precisamos ajudar os dois, e os dois precisam viver em paz, porque um ajuda o outro", defendeu em sua live. "Nós vamos fortalecer a pequena e média propriedade, vamos fortalecer o agronegócio, vamos fazer reforma agrária, que onde precisar assentar gente nós vamos assentar."
Uma das rusgas entre o agro e o governo petista é justamente as invasões de terra, que voltaram a crescer neste início do governo, com algumas ações do MST. Fontes ouvidas pela Reuters revelaram que a ação do movimento -- que apoiou a eleição de Lula -- irritaram o presidente, que as julgou desproporcionais e com potencial para atingir o governo sem razão, já que há determinação de retomar os assentamentos.
Nos últimos meses a ação do MST se reduziu e as invasões pararam, mas sempre com a ameaça dos dirigentes de retomá-las. Na live, Lula mandou um recado claro para os movimentos ao dizer que é possível fazer uma reforma agrária pacífica e sem invasões.
"Não precisa mais invadir terra. Se quem faz o levantamento da terra é o Incra, o incra que comunica ao governo quais são as propriedades improdutivas que existem em cada Estado brasileiro. A partir daí vamos discutir a ocupação dessa terra. É simples, não precisa ter barulho, não precisa ter guerra, precisa ter é competência e capacidade de articulação", afirmou.
O presidente disse ainda que pediu à instituição o levantamento das terras ociosas por Estado e, quando tiver esse material, irá chamar os movimentos para discutir os assentamentos.
(Por Lisandra ParaguassuEdição de Pedro Fonseca)