Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O Ministério da Saúde alterou o sistema em que são registradas as mortes por Covid-19, passando a exigir dados como número de Contribuinte Pessoa Física (CPF) e do Cartão do Sistema Único de Saúde (SUS) dos mortos, o que fez com que os municípios informassem entre terça e quarta-feira um número mais baixo de óbitos do que realmente ocorreu, disse nesta quarta-feira o secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn.
Em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Gorinchteyn disse que a alteração "burocratizou" o registro de mortes por Covid-19 no Brasil e não foi previamente comunicada a Estados e municípios.
A alteração no sistema da pasta acontece no dia em que o Brasil se aproxima da marca de 300 mil mortos por Covid-19 e após o país registrar pela primeira vez mais de 3 mil mortes pela doença em um único dia.
"A mudança do sistema Sivep-Gripe pelo Ministério da Saúde, fazendo alterações especialmente nos aportes de dados com incrementos de registros como número de CPF, Cartão SUS, burocratizou a informação para os próprios municípios", disse Gorinchteyn.
"Dessa maneira, burocratizar sem avisar, fez com que nós não tivéssemos aportado por grande parte do número de municípios do país o número real de óbitos", acrescentou.
No Estado de São Paulo, para se ter uma ideia, foram registradas na terça 1.021 mortes por Covid-19 em 24 horas. Nesta quarta, com a mudança no sistema de registro do ministério, o número caiu para 281 mortes.
Não é a primeira vez que o Ministério da Saúde faz alterações nos dados públicos sobre a Covid-19. Em junho, a pasta passou a divulgar os números por volta de 22h, quando a praxe até então era que eles saíssem por volta de 19h. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro, ao comentar a mudança, afirmou: "acabou matéria no Jornal Nacional", em referência ao telejornal da TV Globo, o de maior audiência do país.
Depois, a pasta chegou a tirar do ar o site onde os dados são divulgados e, quando ela voltou, o ministério deixou de divulgar os números consolidados da pandemia, informando apenas os casos novos, registrados no próprio dia.
Também em junho, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu liminar atendendo pedido da Rede, PCdoB e PSOL para que a pasta retomasse a divulgação dos dados completos e consolidados sobre a pandemia em seu site. A decisão de Moraes foi confirmada por unanimidade pelo plenário do Supremo em novembro.