Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez forte defesa da necessidade de o país se comprometer com a sustentabilidade das contas públicas no pós-pandemia, frisando que sem isso há sério risco de desorganização dos preços de mercado.
"É muito importante que o Brasil volte para esse rumo de disciplina fiscal porque se não acontecer isso nós corremos sério risco de ter uma desorganização dos preços de mercado", disse ele, ao participar por videoconferência do 8º Fórum Liberdade e Democracia nesta quinta-feira.
Ele afirmou ainda que o que faz a política monetária ter sucesso é a credibilidade do país em que ela é implementada. Por isso, indicou que quedas adicionais da taxa básica de juros --atualmente na mínima histórica de 2% ao ano-- não surtiriam efeito num ambiente fiscal desarrumado.
"Se eu caio muito os juros curtos (Selic) e os juros longos sobem em reação a isso, eu não criei um ambiente estimulativo na economia. O ambiente estimulativo na economia não depende só dos juros curtos, depende de muitas outras condições", afirmou.
"Mais importante que os juros curtos ... é a credibilidade que vai fazer nossos juros longos caírem, vai fazer o investimento do investidor estrangeiro voltar ao país", completou.
A Selic é a ferramenta do BC para perseguir sua principal missão, de entregar a meta de inflação, disse Campos Neto, frisando que o IPCA caiu muito. Embora a inflação tenha subido mais recentemente, ele reforçou que o movimento ocorreu por motivos mais pontuais, conforme sinalizado em comunicações oficiais mais recentes do BC.
"O Brasil não gira na Selic, Brasil gira na credibilidade. Selic é instrumento que usamos, mas para que esse instrumento se propague é preciso ter credibilidade", frisou.
Campos Neto defendeu que, após o projeto de autonomia formal do BC ter sido aprovado pelo Senado, os ativos de risco brasileiros têm visto três dias com clara diferenciação, numa mostra de que, com a realização de reformas, recursos virão para o país. O projeto ainda precisa ser apreciado na Câmara dos Deputados.
(Por Marcela Ayres)