SÃO PAULO (Reuters) - A renda dos trabalhadores informais classificados como "invisíveis" pode cair até 37% na ausência de um novo auxílio emergencial, mostrou estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta terça-feira, e mesmo com a concessão do benefício a renda ainda poderia ficar praticamente inalterada para esse grupo.
A análise --de autoria de Lauro Gonzalez e Leonardo Oliveira-- simulou condições diversas para o auxílio com diferenças em valores, público-alvo, gênero, nível de gravidade da pandemia e região do Brasil. A comparação foi feita com patamares de renda usual pré-pandemia.
Segundo a FGV, trabalhadores invisíveis são aqueles contemplados com o auxílio emergencial e que usualmente não recebem o Bolsa Família ou o benefício de prestação continuada. Já os trabalhadores informais correspondem aos que afirmaram trabalhar sem carteira assinada, a trabalhadores autônomos e a familiares auxiliares.
Com um auxílio no valor de 200 reais no cenário pessimista --de maior perda de renda decorrente da pandemia--, os invisíveis teriam alta na renda de 5% (homens) a 11% (mulheres). No caso dos invisíveis informais, as variações seriam de -2% e +2%, respectivamente.
Sem o benefício, as quedas ficariam entre 28% (mulheres dentro da categoria invisíveis) e 37% (mulheres no grupo invisíveis informais). Para os homens, as perdas seriam de 23% e 30%, respectivamente.
Na outra ponta das simulações do estudo --cenário otimista da pandemia e com valor do auxílio de 250 reais--, o aumento de renda seria de 18%-23% (homens e mulheres invisíveis, respectivamente) a 17%-25% (homens e mulheres invisíveis informais, respectivamente).
"Todos os estados e o DF apresentariam ganhos, especialmente aqueles das regiões Norte e Nordeste do país", disseram Lauro Gonzalez e Leonardo Oliveira em referência a ganho de renda para invisíveis informais no melhor dos cenários simulados.
"Cumpre salientar que a existência de um grande contingente de trabalhadores na informalidade decorre de mudanças no mundo do trabalho que precedem a pandemia. Daí a necessidade de aprimorar as políticas de transferência de renda em caráter permanente", completaram.
Nos meses em que vigorou no ano passado, os valores mensais pagos no auxílio foram de 600 ou 1.200 reais, caindo posteriormente à faixa entre 300 e 600 reais.
Pressionado pelo Congresso, o governo voltou a debater o tema, com anuência até do ministro da Economia, Paulo Guedes --embora com contrapartidas.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou nesta terça-feira que a Casa cumprirá seu papel ao aprovar o chamado protocolo fiscal e que, nesse contexto, irá negociar com o Ministério da Economia o pagamento do auxílio emergencial o mais rápido possível.
(Por José de Castro)