Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas futuras de juros fecharam em baixa nesta quarta-feira em toda a curva a termo, em sintonia com o movimento dos rendimentos dos Treasuries de prazos mais longos na maior parte do dia, em uma sessão marcada pela decisão de política monetária do Federal Reserve, que manteve sua taxa básica, e pela expectativa antes do anúncio do Copom sobre a taxa básica Selic.
As taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) cediam desde cedo, acompanhando a queda do rendimento dos Treasuries no exterior, antes da decisão do Fed, marcada para as 15h. Quando a decisão saiu, as taxas seguiram em baixa entre os títulos norte-americanos mais longos e na curva a termo brasileira.
Às 15h, o Fed anunciou a manutenção de sua taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50%, como era largamente esperado pelo mercado, mas adotou uma postura dura, com uma projeção de novo aumento de juros até o fim de 2023 e manutenção de uma política monetária mais apertada durante 2024.
Assim como fizeram em junho, as autoridades do Fed ainda veem a taxa de juros de referência atingindo o pico este ano na faixa de 5,50% a 5,75%, de acordo com a mediana das projeções, apenas 0,25 ponto percentual acima da faixa atual. A partir daí, as projeções trimestrais atualizadas do Fed mostram que os juros cairão apenas 0,5 ponto percentual em 2024, em comparação com um ponto percentual total de cortes previsto na reunião de junho.
Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que a decisão em si não causou surpresas. Já as sinalizações dadas pelo Fed foram passíveis de interpretações.
Para o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, apesar de a projeção para o fim de 2023 manter a perspectiva de alta de 0,25 ponto percentual, diminuíram as chances de o Fed de fato elevar novamente os juros ainda este ano, porque "no gráfico de pontos do Fed subiu de 6 para 7 o número de votantes que acham que já está bom".
Conforme Faria Junior, a comunicação do Fed foi menos dura que o esperado.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirmou que a mensagem mais importante é que o Fed ainda não quer se pronunciar sobre corte de taxa de juros.
"Está muito claro para eles que não é o momento de falar em corte de juros. O Fed está batendo o pé porque o mercado quer forçar corte de juros para maio do ano que vem, mas a batalha não está vencida. Isso traz uma visão de um juro mais alto por mais tempo", avaliou.
Passado o anúncio do Fed, os investidores aguardavam no fim da tarde pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A expectativa majoritária era de corte de 0,50 ponto percentual da taxa básica Selic, de 13,25% para 12,75% ao ano, mas o mercado aguarda por pistas sobre os próximos passos do colegiado.
A principal dúvida é se o BC vai sinalizar a possibilidade de aceleração do ritmo de cortes da Selic, para 0,75 ponto percentual, nos encontros do Copom de novembro e dezembro.
“Para o Brasil, estão dados os cortes de meio ponto percentual da Selic nas próximas reuniões. A grande discussão é o nível terminal na Selic”, opinou Gala.
Com o movimento do dia, perto do fechamento a curva a termo precificava 3% chance de o corte da Selic nesta quarta-feira ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 97%.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,255%, ante 12,27% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,48%, ante 10,492% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2026 estava em 10,15%, ante 10,187%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,38%, ante 10,443%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,7%, ante 10,772%.
No exterior, no fim da tarde as taxas dos Treasuries demonstravam reação e oscilavam perto da estabilidade ou em leve alta.
Às 16:52 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 0,20 ponto-base, a 4,3688%.