Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros emplacaram nesta terça-feira a segunda sessão consecutiva de alta no Brasil, em praticamente toda a curva a termo, novamente impactadas por dados decepcionantes da economia da China, enquanto números do varejo dos EUA elevaram a percepção de que o Federal Reserve pode voltar a subir os juros em setembro.
Em linhas gerais, o movimento de alta das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) nesta terça-feira deu continuidade à aversão global a risco já verificada na véspera.
Antes da abertura dos negócios, a China informou que as vendas no varejo em julho subiram 2,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Economistas ouvidos pela Reuters esperavam elevação de 4,5%. Já a produção industrial chinesa teve alta de 3,7%, ante projeção de 4,4% dos economistas.
Em reação aos dados fracos, o banco central chinês cortou um conjunto de taxas de juros para sustentar a atividade econômica. Alguns analistas afirmam, no entanto, que mais suporte será necessário.
Na Europa, alguns números divulgados mais cedo também desagradaram, lançando dúvidas sobre o ritmo de crescimento da economia. Entre eles, o índice ZEW de confiança do consumidor da Alemanha subiu para -12,3 pontos em agosto, ante -14,7 em julho, ainda assim se mantendo em território negativo.
O cenário foi completado pela informação de que as vendas no varejo dos EUA em julho subiram 0,7%, ante projeção de alta de 0,4%, sugerindo que a economia segue forte. O resultado alimentou expectativa de que o Federal Reserve pode promover mais um aumento de sua taxa básica de juros, em setembro.
“O avanço dos juros hoje (terça-feira) se deve ao aumento da aversão a risco lá fora, que continuou por conta dos dados de atividade econômica na China, piores que o esperado, e um pouco pela preocupação com a política monetária norte-americana, com os dados do varejo nos EUA mais fortes que o esperado. Isso favorece a abertura da curva de juros”, avaliou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG).
No Brasil, a agenda de indicadores foi esvaziada, mas investidores ficaram atentos a declarações de autoridades do Banco Central ao longo do dia.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou durante evento em Brasília que o reajuste “grande” de combustíveis anunciado pela Petrobras (BVMF:PETR4) deve fazer a instituição revisar suas projeções de inflação.
“O impacto do diesel não é direto, é indireto na cadeia, mas o impacto da gasolina é direto no IPCA. Então, a gente provavelmente vai ter revisões (nas projeções de inflação) com o reajuste de hoje (terça-feira)", afirmou.
Pela manhã, a Petrobras anunciou que o preço médio da gasolina foi elevado em 0,41 real por litro, a 2,93 reais por litro. Já o diesel foi elevado em 0,78 real por litro, a 3,80 reais por litro.
Além de Campos Neto, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, tratou da inflação durante evento público. Segundo ele, o cenário de elevação das taxas de juros com prazos mais longos nos Estados Unidos, verificado mais recentemente, demanda cuidado para países emergentes como o Brasil. Ao mesmo tempo, ele pontuou que ainda há "muito tempo" até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro.
Nas mesas de operação, também havia nesta terça-feira certo desconforto com os ruídos que surgiram entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Após ter falado em um “poder inédito” da Câmara, Haddad telefonou a Lira na segunda-feira para esclarecer a declaração.
"Minhas declarações não são uma crítica à atual Legislatura", disse Haddad ainda na noite de segunda.
Em meio a estes fatores adversos -- em especial, os do exterior -- as taxas futuras subiram nesta terça-feira entre a maior parte dos vencimentos, alterando um pouco a precificação sobre o próximo encontro do Copom.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava apenas 11% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Na segunda-feira, esta precificação era de 13%. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual seguem majoritárias, precificadas em 89%, contra 87% na sessão anterior. Atualmente, a Selic está em 13,25% ao ano.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,455%, ante 12,459% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,49%, ante 10,459% do ajuste anterior. Na ponta longa, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,02%, ante 9,98% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,21%, ante 10,155%.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries se mantinham em alta após os números do varejo norte-americano.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 2,70 pontos-base, a 4,209%.