Por Alexandra Alper e David Morgan
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, interrompeu nesta terça-feira as negociações com os democratas sobre um pacote de auxílio econômico devido aos impactos da pandemia de coronavírus no país até depois das eleições norte-americanas, mesmo com os casos aumentando em grande parte dos EUA.
O tuíte do presidente anunciando o fim das negociações sobre uma nova rodada de estímulo assustou Wall Street, fazendo com que as ações caíssem até 2% em relação às máximas da sessão -- um forte impacto em uma das métricas que o presidente cita como sinal de sucesso de seu governo.
A medida de Trump atraiu críticas imediatas de ao menos um parlamentar republicano e de vários democratas, que disseram que é necessário mais auxílio fiscal para ajudar os milhões que perderam seus empregos em uma crise sanitária que matou mais de 210 mil norte-americanos.
Depois de dias de palavras conflitantes de médicos e assessores sobre seu estado de saúde, Trump, de 74 anos, mostrou que ainda tem o que é preciso para disparar seus tuítes explosivos enquanto é tratado com medicamentos fortes, incluindo esteróides.
Trump voltou à Casa Branca na segunda-feira, depois de passar três noites no hospital. As autoridades disseram que ele estava trabalhando em um escritório improvisado na residência, em vez do Salão Oval, com apenas alguns funcionários sêniores tendo acesso presencial ao presidente.
O apoio ao seu oponente democrata, Joe Biden, cresceu cerca de 4 pontos percentuais desde meados de setembro, de acordo com a pesquisa Reuters/Ipsos realizada entre 2 e 6 de outubro, com 52% dos prováveis eleitores apoiando Biden em comparação a 40% de Trump.
Em seu primeiro ato político importante desde o retorno à Casa Branca, Trump suspendeu abruptamente as negociações com parlamentares democratas sobre um projeto de alívio devido aos impactos do coronavírus até depois das eleições, mesmo com os casos do vírus aumentando em grande parte do país.
"Instruí meus representantes a pararem de negociar até depois das eleições, quando, imediatamente após eu ganhar, aprovaremos um grande projeto de lei de estímulo que se concentra em norte-americanos trabalhadores e pequenas empresas", escreveu Trump no Twitter.
A presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, afirmou: "Hoje, mais uma vez, o presidente Trump mostrou sua verdadeira face: colocando-se em primeiro lugar às custas do país. A Casa Branca está em completa desordem".
Em uma teleconferência com seus colegas democratas, Pelosi sugeriu que o discernimento de Trump foi afetado por um dos medicamentos que ele está usando, o esteróide dexametasona, que é normalmente usado nos casos mais graves da Covid-19.
"Há pessoas que pensam que os esteróides têm um impacto sobre o seu pensamento", disse Pelosi, de acordo com uma pessoa que estava na ligação.
O médico de Trump disse nesta terça-feira que o presidente não relatou sintomas da Covid-19 e estava "extremamente bem".
O deputado republicano John Katko também criticou a decisão de interromper as negociações.
“Com vidas em risco, não podemos parar as negociações sobre um pacote de ajuda”, disse Katko no Twitter. "Exorto veementemente o presidente a repensar essa medida."
Mas o líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, disse que concordava com a decisão de Trump, afirmando a repórteres que "sua visão era que as negociações não iriam produzir um resultado e precisamos nos concentrar no que é alcançável".
(Reportagem adicional de Susan Heavey, Susan Cornwell, Patricia Zengerle, Doina Chiacu, Steve Holland e Mohammad Zargham em Washington e Deena Beasley em Los Angeles)