Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - Com três anos e meio de mandato pela frente, uma debilidade econômica que não dá sinais de arrefecimento e com os patamares mais baixos em décadas de aprovação, a presidente Dilma Rousseff tem um futuro incerto, cuja saída seria a criação de uma agenda positiva, que parece improvável na avaliação de analistas.
O cenário nebuloso tem trazido de volta à baila a improvável, porém não desprezível, possibilidade de uma interrupção do governo da petista, segundo analistas.
"Pode um governo tão fraco, com a popularidade tão baixa, tão atrapalhado, se sustentar por mais três anos e meio?", indagou o analista da MCM Consultores Associados Ricardo Ribeiro.
"Acho que estamos em um momento em que voltou a ficar discutível quanto tempo vai durar o governo Dilma. Não acho que impeachment seja o mais provável, mas voltou a ganhar força essa questão."
O governo Dilma está a dias de ter suas contas julgadas no Tribunal de Contas da União (TCU) por supostas irregularidades fiscais, o que pode gerar um processo de impeachment por crime de responsabilidade contra a presidente, e segue sujeito a chuvas e trovoadas em meio aos desdobramentos da operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção na Petrobras (SA:PETR4).
Todo este cenário tem levado aos patamares mais baixos de popularidade de um presidente da República em décadas, como mostrou pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira, que apontou ainda pessimismo com o restante do mandato de Dilma. Um dos fatores principais para a baixa aprovação, a economia.
Na avaliação dos analistas ouvidos pela Reuters, a saída para o cenário atual passa necessariamente pela criação de uma agenda positiva por parte do governo, que precisa incluir uma retomada da economia, o que parece pouco provável no curto prazo.
"Ela (Dilma) tem que criar uma agenda positiva. O problema é que ela não consegue. Ela não tem habilidade para isso. A conjuntura só se agravou, as más notícias só aumentaram", disse o cientista político do Insper Carlos Melo.
O governo tem enfrentado, ainda, dificuldades com sua agenda no Congresso Nacional, apesar de sua ampla base parlamentar. Todas as medidas de ajuste fiscal enviadas pelo Executivo ao Legislativo até agora foram aprovadas com dificuldade e resultaram em economia inferior à estimada pelo governo quando as editou. Em outros casos, o Congresso incluiu nos textos propostas que aumentam os gastos do Executivo.
"A relação do governo com o Congresso vai ser marcada por um controle dividido da agenda", disse o analista da Tendências Consultoria Rafael Cortez.
"Isso significa que nós não vamos ter um processo de reformas mais amplo, as mudanças serão bastante pontuais... No plano econômico, a consequência desse quadro de agenda dividida é a permanência de um quadro de desconfiança em relação às chances de retomada do crescimento econômico, por conta desses sinais mistos que serão enviados pelo quadro político."
FRAGILIDADE ECONÔMICA
Economistas do mercado financeiro ouvidos todas as semanas pelo Banco Central reduziram nesta semana as estimativas de variação do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e o próximo e elevaram as estimativas para a inflação oficial neste ano e para a taxa básica de juros ao final de 2015.
Se concretizadas, as estimativas dos economistas tornam ainda mais difícil a missão de Dilma de criar uma agenda favorável que lhe permita sair da camada pré-sal da popularidade em que está atualmente.
"A possibilidade de ela sair desse conflito é difícil de vislumbrar neste momento... Ela precisava ter uma agenda positiva. Agenda positiva significa desenvolvimento, emprego e renda. A questão é: no curto e médio prazo, você consegue reverter essa tendência da economia, criar empregos e criar renda?", disse Melo, do Insper.
No cenário desenhado por Cortez, da Tendências, não.
Assim como os economistas consultados todas as semanas pelo BC, ele prevê um 2015 de recessão e um 2016 de baixo crescimento econômico. Com o agravante que, na avaliação do analista, o débil crescimento econômico do ano que vem não deve vir acompanhado de recuperação no mercado de trabalho.
Em termos da popularidade da presidente, Cortez aposta que, no melhor cenário, os dois últimos anos de mandato de Dilma podem trazer alguma recuperação econômica, caso a petista insista na agenda do ajuste fiscal, o que pode levar a aprovação da presidente a, no máximo, um patamar um pouco abaixo de 30 por cento de ótimo ou bom.
"Mesmo no cenário mais positivo para o Planalto, ele chega em uma tendência de oposição em 2018", pondera Cortez, se referindo ao ano da próxima eleição presidencial.