GENEBRA (Reuters) - A União Africana (UA) acusou nesta terça-feira os fabricantes de vacinas contra a Covid-19 de negar às nações africanas uma chance justa de comprar os insumos e instou os países fabricantes, em particular a Índia, a suspender as restrições à exportação de vacinas e de seus componentes.
"Esses fabricantes sabem muito bem que nunca nos deram o acesso adequado", disse Strive Masiyiwa, representante especial da UA para a Covid-19, em uma entrevista promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Genebra. "Poderíamos ter lidado com isso de forma muito diferente."
De 5,7 bilhões de doses de vacinas contra o coronavírus administradas em todo o mundo até agora, apenas 2% foram na África.
Masiyiwa sublinhou que, com o objetivo de vacinar 60% da sua população, a União Africana e os seus parceiros esperavam comprar metade das doses necessárias, enquanto se esperava que metade viesse de doações através do programa Covax, apoiado pela OMS e pela aliança global de vacinas Gavi.
“Queremos acesso para comprar”, disse.
O CEO da GAVI, Seth Berkley, disse que sua organização contava com suprimentos da Índia --o maior centro de fabricação de vacinas do mundo-- no início da pandemia, mas que não recebe doses do país desde março, quando a Índia impôs restrições à exportação.
Masiyiwa acrescentou: "Os fornecedores nos últimos oito a nove meses deixaram claro que o maior desafio que enfrentam são as restrições às exportações."
Ele instou o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional a começarem a trabalhar em um fundo de prontidão para pandemia para ajudar as nações mais pobres a comprar vacinas no futuro, em vez de depender de um mecanismo de compartilhamento como o Covax, que até agora conseguiu fornecer apenas 260 milhões doses.
“O compartilhamento de vacinas é bom, mas não deveríamos depender do compartilhamento de vacinas, especialmente quando podemos chegar à mesa com as estruturas no lugar e dizer que também queremos comprar”, disse.
Junto com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ele reiterou o pedido de dispensa de patente para vacinas de importância global, dizendo que a África deseja estabelecer sua própria capacidade de fabricação.
Os esforços para desenvolver uma base africana para a produção de vacinas contra a Covid-19 se concentrarão na tentativa de replicar o imunizante da Moderna (NASDAQ:MRNA) (SA:M1RN34), mas uma falta de progresso nas negociações com a empresa norte-americana significa que o projeto levará tempo, disse Martin Friede, coordenadores da Iniciativa da OMS para Pesquisa de Vacinas
(Reportagem de Mrinalika Roy e Emma Farge)