Miguel Cabanillas.
Milão, 3 dez (EFE).- A América Latina fechou hoje a 4ª
Conferência Itália-América Latina e Caribe de Milão com um puxão de
orelhas à Europa pelas políticas que "criminalização" à imigração,
uma atitude que foi reprovada pelo ministro de Relações Exteriores
do Equador, Fander Falconi.
O político, que chegou ao congresso também como presidente
rotativo da União de Nações Sul-americanas (Unasul), deixou claro -
em pleno debate entre as relações da União Europeia e a América
Latina -, que a cooperação comercial entre ambas as partes está bem,
mas que não se deve esquecer da imigração.
"Sem dúvida a integração europeia é um exemplo mundial. Mas a
Europa teve uma história de emigração muito forte recentemente em
direção às duas Américas, Oceania e Ásia. E agora é a Europa que
criminaliza a imigração. É uma contradição", disse Falconi.
"É inconcebível que em plena globalização os capitais possam
circular livremente, mas as pessoas encontrem problemas. Cabe a nós
encontrar soluções para isso", acrescentou.
O ministro equatoriano fez um dos discursos mais críticos da
conferência, que começou ontem, colocando que esta é uma boa
oportunidade para a América Latina se aproximar ainda mais de outro
país da UE como a Itália, com o qual, além da Espanha e Portugal,
partilham laços históricos, sobretudo em termos humanos.
As palavras críticas do titular de Exteriores do Equador foram
oportunas por terem sido pronunciadas em um país que introduziu,
neste ano, o crime de imigração ilegal e no qual a colônia
equatoriana, junto a peruana, é a mais numerosa entre os
latino-americanos presentes (mais de 70 mil imigrantes no final de
2008).
Falconi, que apostou em um diálogo "sincero" com os membros
comunitários sobre imigração, contou que seu Governo decidiu
suspender a assinatura de um acordo que negociava com a UE porque o
texto seguia em um plano comercial e o Equador queria um compromisso
político com a Europa, que envolvesse também a cooperação ao
desenvolvimento.
Além da crítica, a última sessão plenária da conferência de Milão
foi a que contou com uma maior presença de autoridades da América
Latina, entre as quais a do secretário-geral Ibero-americano,
Enrique Iglesias, que falou de um "sex appeal" latino-americano que
foi depois abordado por outros políticos.
Iglesias reconheceu que talvez essa atração sexual que a América
Latina provocou sempre em direção à Europa pode ser reduzida com a
emergência das potências asiáticas, algo que, no entanto, não
compartilha a ministra de Trabalho do Chile, Claudia Serrano.
"Acho que ainda somos 'sexy'. Somos parte de uma mesma unidade.
Somos nações que pensamos que a democracia é a forma de Governo para
nossos países. Queremos um Governo social que se baseie no direito
multinacional e no diálogo", disse Serrano.
Sem esquecer esse "sex appeal", o ministro de Assuntos Exteriores
da Costa Rica, Bruno Stagno, falou da "linda cintura" da América -
os oito países localizados no centro do continente -, em discurso
feito como representante da Presidência rotativa do Sistema de
Integração Centro-americana (Sica).
"A cintura da América nem sempre está de moda. A América Central
é a cintura do continente e convido a todos durante alguns minutos a
baixarem os olhos. Na cintura da América temos oito pequenos países
que compartilham uma história de tragédia e de sucessos", disse o
titular de Exteriores da Costa Rica.
O discurso do ministro da Defesa do Peru, Rafael Rey, foi
centrado nos problemas de segurança na região, sobre todos os
relacionados ao narcotráfico, o tráfico de armas e o terrorismo, e
exigiu à Europa a "co-responsabilidade" dos países consumidores de
droga com os produtores.
O vice-presidente do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, encerrou os
discursos dos políticos latino-americanos em um congresso que,
segundo ele, serviu para fazer um balanço dos valores compartilhados
e para reiterar o compromisso de traçar um caminho comum. EFE