Bruxelas, 19 jul (EFE).- A Alemanha continua jogando água fria sobre a cúpula extraordinária de líderes da zona do euro, convocada para a próxima quinta-feira com o objetivo de buscar uma solução definitiva para a crise grega que elimine o risco de contágio a países como Espanha e Itália.
A chanceler alemã, Angela Merkel, descartou nesta terça-feira que a reunião termine com um resultado "espetacular" que ponha fim a todos os problemas da economia da Grécia.
Em entrevista coletiva em Hannover ao lado do presidente russo, Dmitri Medvedev, Merkel explicou que os gregos precisam de um "processo controlado e dominado", com múltiplas medidas para reduzir o volume da dívida do país e melhorar sua competitividade.
Neste sentido, embora seja "humano" pretender que certos problemas recorrentes "desapareçam" definitivamente da agenda, "quem leva a sério suas responsabilidades políticas" deve evitar ações de efeito, frisou Merkel.
A opinião da chanceler alemã, que desde o início foi reticente à convocação da cúpula, contrasta com a dos países mais pressionados pelos mercados, como a Espanha e a própria Grécia.
Em Atenas e Madri, declarações de diferentes dirigentes consideram que não é possível demorar mais na busca por uma solução definitiva que acabe com a crise de confiança sobre a dívida soberana da zona do euro, que já dura mais de um ano.
"As alternativas a tomar uma decisão são poucas, para não dizer nenhuma", disse um alto funcionário europeu, advertindo que "as consequências de não fazê-lo poderiam ser muito graves", dado o "enquistamento dos problemas", os ataques à dívida espanhola e italiana, as dúvidas sobre os testes de estresse a bancos e a necessidade de liquidez da Grécia em setembro.
A fonte considerou que "as soluções dadas até agora não foram suficientes, pois não regularam os problemas de fundo" e criticou o debate público de muitas delas, o que "apenas agravou as coisas".
Neste sentido, o funcionário destacou que a solução à crise "não vai ser simples", pois "todo mundo vai ter que pagar" parte da fatura do resgate à Grécia, que é o assunto central das conversas nesse momento.
No coração do problema estão as diferenças entre a Alemanha e o Banco Central Europeu (BCE) sobre a contribuição do setor privado ao segundo resgate da Grécia, avaliado em 30 bilhões de euros (que junto com a ajuda multilateral somaria um total de 110 bilhões de euros).
Um grupo liderado por Alemanha, Holanda e Finlândia deseja obter uma "substancial" contribuição dos bancos, à qual se opõem o BCE e outros países como a Espanha, diante do temor que isso seja percebido como falta de pagamento parcial da dívida helena e provoque uma maior desconfiança dos mercados em relação à dívida da zona.
Nesta terça-feira, um membro do Conselho do BCE, Ewald Nowotny, abriu a porta para uma flexibilização da postura do instituto emissor sobre a declaração de falta de pagamento parcial, mas depois endureceu o discurso e se alinhou com o presidente da instituição, Jean-Claude Trichet.
Trichet advertiu em reiteradas ocasiões que o BCE não aceitará a dívida grega como aval nas operações de refinanciamento dos bancos gregos no caso de uma declaração de falta de pagamento total ou parcial.
Esta advertência é muito importante, pois obrigaria a criação de ferramentas para manter o sistema bancário heleno flutuando sem apoio do BCE, o que poderia arruinar o efeito pretendido com a integração do setor privado no resgate, que é reduzir a contribuição dos estados.
Além dos tecnicismos, é preciso avaliar as consequências que acarretariam cada uma das opções e decidir por uma delas no mais alto nível político, como lembrou o funcionário europeu. EFE