Jesús Sanchis.
Porto Príncipe, 21 jun (EFE).- As urnas ficaram praticamente às
moscas hoje no Haiti, onde aconteceu o segundo turno das eleições
parciais para o Senado, em um dia marcado pela mesma apatia que
contagiou os eleitores na primeira fase da votação.
Cerca de 4,6 milhões de haitianos estavam convocados a votar em
nove dos dez departamentos (estados) do país para escolher 11
senadores entre um total de 22 candidatos.
Com apenas seis, oito ou dez cédulas de votação, em muitos
colégios eleitorais de Porto Príncipe as urnas permaneciam quase
vazias sobre as mesas pouco antes do fechamento dos centros, que
aconteceu às 16h (18h, horário de Brasília).
Especialistas como o presidente do Conselho Nacional de
Observação (CNO), Noel Laguerre, disseram à Agência Efe que, embora
ainda não haja um número disponível sobre a participação, no
conjunto do país, aparentemente, os índices foram baixos.
"Pessoalmente visitei centros de votação do departamento Oeste
(onde fica a capital, Porto Príncipe), e a participação foi muito
baixa", afirmou.
No entanto, rádios locais informaram que a participação superou
um pouco esta tendência em regiões do departamento Noroeste.
A maioria dos eleitores passou o domingo em igrejas ou assistindo
à partida entre Brasil e Itália pela Copa das Confederações.
O resultado disso foi que muitos mesários aproveitaram o tempo
disponível para cochilar sobre os bancos de madeira dos colégios
eleitorais, à espera do fim da votação.
Em alguns casos, membros dos escritórios de apuração confirmaram
que a participação de eleitores foi menor que durante a primeira
etapa, realizada em 19 de abril, quando apenas 11,3% dos cidadãos
aptos a votar exerceram seu direito nas urnas.
Isso acabou levantando a questão da legitimidade do processo
eleitoral.
"As pessoas chegam muito timidamente. É uma situação parecida com
a do primeiro turno. É possível perceber o descontentamento popular
pelos problemas socioeconômicos sofridos pelo país", disse à Agência
Efe Jean Samuel Mathurin, voluntário do CNO. Ele percorreu a região
eleitoral Building 2004, na periferia norte, onde havia 34 colégios.
O presidente do país, René Préval, disse que quando a sociedade
não vota, os políticos devem se perguntar sobre o que está ocorrendo
e qual é a causa da abstenção.
No entanto, advertiu que os líderes políticos "não devem cometer
o erro" de acreditar que a ausência de eleitores responde às ordens
de boicote que alguns deles fizeram.
Embora Préval não tenha mencionado qualquer partido, o Família
Lavalas pediu aos eleitores para boicotarem o processo, por
considerar a votação ilegal.
A legenda foi excluída das eleições pelo Conselho Eleitoral
Provisório (CEP) por não se ajustar aos requisitos estabelecidos em
lei na apresentação de candidatos.
"Eu espero destas eleições que completem o Senado", declarou
Préval aos jornalistas após votar.
O governante quer promover uma série de reformas, entre elas a da
Constituição do país, e, para isso, é necessário que o Parlamento
esteja completo e funcione plenamente.
Fora a elevada abstenção, a jornada eleitoral transcorreu em um
ambiente de relativa normalidade, embora ofuscada por episódios
violentos isolados.
Um homem identificado como Jean-Pierre Wilfrid foi assassinado
hoje em Jérémie, em Grand Anse (sudoeste), em confrontos entre
partidários do governista Lespwa (A Esperança) e da Fusão dos
Social-democratas.
Também houve choques entre partidários da Organização do Povo em
Luta (OPL) e do Lespwa no sudeste, onde duas pessoas foram baleadas
e outra foi ferida com arma branca, informou a Polícia.
O presidente do CEP, Frantz Gérard Verret, qualificou estes fatos
de "pequenos incidentes" que "não podem afetar o processo", por isso
que considerou que não houve "maiores problemas" de violência.
"Se em mais de nove mil escritórios de votos registramos
problemas somente em 10, podemos dizer que não houve maior
dificuldade", afirmou. EFE