Por Paul Carrel
BERLIM (Reuters) - Parlamentares alemães aprovaram nesta sexta-feira negociações da zona do euro sobre um terceiro resgate à Grécia, dando ouvidos a um alerta da chanceler Angela Merkel de que a alternativa ao acordo com Atenas seria o caos.
A câmara baixa do Parlamento alemão, o Bundestag, cujo apoio era essencial para o início das negociações, aprovou a realização das conversas com Atenas por 439 votas a favor ante 119 contra, com 40 abstenções.
Há um sentimento de desconfiança popular profundo na Alemanha, o país da zona do euro que mais contribuiu com os dois resgates anteriores da Grécia desde 2010, sobre destinar ainda mais ajuda para Atenas.
O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, questionou se o novo programa terá sucesso, apesar de a oferta dos credores a Atenas incluir condições de mais austeridade e reformas econômicas que Berlim havia exigido.
No entanto, Merkel argumentou a favor da negociação de um novo acordo para evitar que a Grécia saia do euro, o chamado "Grexit" que poderia prejudicar toda a união monetária, e disse que sugestões de que Atenas pode deixar temporariamente o bloco não são viáveis.
"A alternativa a esse acordo não seria uma saída temporária da zona do euro... mas sim um previsível caos", disse Merkel ao Bundestag. "Seríamos grosseiramente negligentes, e agiríamos de forma irresponsável, se nós ao menos não tentarmos esse caminho", disse.
O próprio Schaeuble sugeriu que a Grécia poderia ficar melhor saindo temporariamente da zona do euro para solucionar seus enormes problemas econômicos. Mas a chanceler conservadora disse que a Grécia e os outros não estão dispostos a aceitar a ideia. "Portanto esse caminho não é viável", acrescentou.
Apesar de suas desconfianças, Schaeuble alinhou-se com a chefe. "Peço a todos que votem a favor deste pedido hoje. O governo não enviou o pedido com facilidade", disse ele ao Bundestag. "É uma última tentativa de cumprir essa tarefa extremamente difícil".
Merkel também conquistou o apoio do Partido Social-Democrata, parceiro minoritário da coalizão. "Qualquer debate sobre uma saída da Grécia tem agora que pertencer ao passado", disse o líder social-democrata, Sigmar Gabriel, que também é o vice-chanceler.
Essa visão, no entanto, está longe de ser unânime no país.
"Sete motivos pelos quais o Bundestag deveria votar 'Não' hoje", era uma das manchetes do popular jornal Bild antes do debate, listando entre as razões que a "saída da Grécia (da zona do euro) é a melhor solução" e "nossos netos vão pagar".
(Reportagem adicional de Michell Martin e Caroline Copley)