Por Maria Carolina Marcello e Leonardo Goy
BRASÍLIA (Reuters) - Com importantes decisões no horizonte, como a própria permanência do PMDB no governo e o julgamento das contas públicas pelo TCU, os meses de outubro e novembro serão decisivos para um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff, disse nesta quinta-feira o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Mendonça Filho (PE), um dos principais articuladores da oposição.
O governo já enfrenta turbulências políticas e econômicas, mas na avaliação de Mendonça Filho tanto o quadro político como o econômico podem se agravar e reforçar os argumentos para eventual impedimento da presidente.
"Os próximos 60 dias serão decisivos. Até novembro saberemos", disse à Reuters o líder do DEM.
Num dos fronts, o Tribunal de Contas da União (TCU) analisa as contas do governo federal de 2014 com os atrasos no repasse de recursos a bancos públicos para melhorar a situação das contas públicas, as chamadas "pedaladas fiscais", utilizadas pela oposição como argumento para pedir a saída de Dilma.
Em outro front está o futuro da aliança com o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer e fiel da balança em qualquer votação no Parlamento. Não é de agora que a aliança PT-PMDB apresenta fissuras, mas a parceria corre o risco de sofrer um rompimento definitivo em um congresso do partido em novembro.
É justamente por isso que contemplar os interesses do PMDB vem sendo a prioridade da reforma ministerial negociada pelo governo, em um cenário em que lideranças peemedebistas, inclusive Temer, já mencionaram o desejo da legenda de ter candidatura própria ao Planalto em 2018.
Para Mendonça Filho, a direção tomada pelo PMDB terá grande influência no futuro político do governo, do mesmo modo que o desempenho da economia.
Ao longo dos próximos dois meses pode ainda ocorrer um agravamento das condições econômicas, cada vez mais afetadas pelo ambiente político.
Quando tirou do Brasil o selo de bom pagador, a agência de classificação de risco Standard & Poor´s atribuiu à instabilidade política um dos motivos para a piora na avaliação do país e há o temor que o movimento seja seguido por outra agência.
"Há uma forte associação entre o quadro econômico e o político. Talvez por isso, procuraram uma opinião da oposição. Eu externei (à Fitch) um quadro geral, chances e o caminho político de um impeachment ... Há uma chance razoável, não está fora do quadro", disse.
O líder lembrou ainda que os desdobramentos da operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção principalmente na Petrobras (SA:PETR4), devem adicionar mais lenha à fogueira.
Irônico, o deputado disse que a oposição conta ainda com um aliado poderoso para produzir fatos contra o governo: "o próprio governo".
(Reportagem adicional de Anthony Boadle)